Nosso calendário registra o dia 21 de março como Dia Universal do Teatro. E o dia 27 de março é o Dia Mundial do Teatro e o Dia do Circo. Temos mais duas ou três datas sobre isso no calendário. Para uma atividade ter tantas datas comemorativas é porque, como diz o professor Warde Marx, “aí tem história”.
A atividade teatral é mais do que apenas uma forma de arte. Ela nasce da necessidade da comunicação de um ser humano com outro – desde quando a gente se constituiu como espécie, a Homo Sapiens, há uns 300 mil, 350 mil anos. Antes que desenvolvêssemos um idioma, nós já tínhamos que nos entender – e aí está a raiz do teatro. À noite, em volta da fogueira, quando alguém mostrava com seu corpo e voz como tinha sido a caçada daquele dia já estava usando recursos teatrais que praticamos até hoje. Depois vieram conversas mais sérias. Foi quando nossos antepassados tiveram que falar com os deuses; aí surgiram as demais artes, pinturas nas cavernas, dança da chuva, hinos a deuses e heróis.
Desde a antiga Grécia, Dioniso é o deus da fertilidade, do vinho e do teatro. Seus ritos eram chamados de “dionisíacas”. Suas aventuras e desventuras eram relatadas em cantos parecidos com ladainhas, chamados ditirambos e entoados por um coral, mas havia alguns intérpretes que se destacavam. Esse foi o caso de Téspis de Icária, que nasceu por volta de 550 a.C. e morreu aos 50 anos. Em novembro de 534 a.C, Téspis foi chamado a Atenas para se apresentar numa novidade: um concurso de ditirambos que ocorreria na Grande Dionisíaca. Téspis apresentou um novo jeito de entoar os cantos: ele se destacou do coro e apresentou-se como o próprio Dioniso, dialogando com o coro. Isso acontecia pela primeira vez. Foi um sucesso instantâneo e ele foi o grande vencedor do concurso. Numa carroça, que lhe servia de transporte e palco, Téspis percorreu a Grécia com seu coro, apresentando as lendas da riquíssima religião grega, que hoje chamamos de mitologia.
Os festivais de teatro substituíram o concurso de ditirambos. Os vencedores desses festivais anuais não ganhavam dinheiro, mas havia um imenso prestígio na cidade. Eram reconhecidos como cidadãos importantes, que contribuíam para a coletividade. Ali, o teatro servia para a educação do cidadão. A ação no palco era – e ainda é –um laboratório da vida humana. Em meio ao entretenimento, o espectador observa como sua vida é ou poderia ou deveria ser. E sai do teatro refletindo sobre isso, mesmo que vá comer uma pizza depois.
O teatro grego durou enquanto durou a democracia grega. Em Roma, o teatro foi aceito apenas como diversão, sem contestação alguma. O cristianismo acabou de vez com ele. A atividade cênica foi proibida pela Igreja Cristã no século V. Mas, voltou no século X – ah, como é doce a vingança – porque a Igreja descobriu que era muito útil para formar o cidadão do mundo cristão. O mesmo que os gregos tinham percebido, 1.500 anos antes.