Quando voltou para Portugal, em 1821, D. João deixou seu filho, o príncipe herdeiro D. Pedro, como regente. Só que a Corte portuguesa queria recolonizar o Brasil e passou a exigir a volta de D. Pedro. Se ele voltasse, o Brasil retornaria à condição de colônia. Para convencer D. Pedro a permanecer, o presidente do Senado José Clemente Pereira entregou ao príncipe um documento com 8 mil assinaturas que pediam que não partisse. Cedendo às pressões e desrespeitando as ordens portuguesas, no dia 9 de janeiro de 1822, D. Pedro decidiu permanecer no Brasil. O que ficou para a história foi a célebre frase “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!”. Por isso é que a data acabaria conhecida como Dia do Fico. Mas há um grande mistério nessa frase, como conta o jornalista Laurentino Gomes, autor de “1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram dom Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado”:

“Depois de ler o abaixo-assinado, dom Pedro teria se encaminhado até uma das janelas laterais do Paço Imperial, no centro da cidade, de onde pronunciaria uma frase decidida e corajosa: “Como é para bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!”

Há, porém, outra versão dessa frase. As primeiras palavras de dom Pedro teriam sido pronunciadas em tom cauteloso: “Convencido de que a presença de minha pessoa no Brasil interessa ao bem de toda a nação portuguesa, e conhecido que a vontade de algumas províncias assim o requer”. Em seguida, de forma ainda mais comedida e diplomática, teria anunciado: “Demorarei a minha saída até que as cortes e o meu Augusto Pai e Senhor deliberem a este respeito, com perfeito conhecimento das circunstâncias que têm ocorrido”.

Portanto, em momento algum dom Pedro teria anunciado que “ficaria” no Brasil, desobedecendo às ordens de Lisboa, mas apenas que “demoraria” a partida do Rio de Janeiro até que as próprias cortes e o pai, dom João VI, decidissem o seu destino. Essa versão da frase de dom Pedro consta dos autos da vereação e do edital publicados no mesmo dia. Ela indica uma resposta prudente, sem rompimentos, na qual o príncipe invocava “o bem de toda a nação portuguesa” e o respeito às cortes e ao seu pai e rei de Portugal.

Misteriosamente, no dia seguinte um novo edital foi publicado com palavras mais enérgicas. Quem teria mudado a frase? A suspeita recai sobre a maçonaria, na época empenhada em promover dom Pedro a protagonista da Independência. A nova versão estava de acordo com seus interesses. O abaixo-assinado do Dia do Fico fora preparado em uma modesta cela no Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca, por frei Francisco Sampaio, ligado à maçonaria. Seria também ele o “editor” final da frase de dom Pedro, que passaria para a história na sua versão atual?”

O Dia do Fico fez parte do processo de independência do Brasil, que culminou no dia 7 de setembro de 1822, com a proclamação da independência.