O deputado estadual Edmir Chedid (DEM) apresentou um projeto de lei na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para regulamentar a profissão de ufólogo, atividade dedicada ao estudo de seres espaciais e objetos voadores não identificados. A justificativa, apresentada no Diário Oficial no dia 11 de agosto de 2016, faz um resumo da história da Ufologia, “praticada desde os tempos mais remotos” e explica que a regulamentação é essencial para facilitar a captação de recursos para pesquisas e estudos. A moção surgiu de um pedido do Grupo de Pesquisas Ufológicas.

Membro do GPU, Clóvis Roque Júnior explicou ao Blog do Curioso que a batalha pelo reconhecimento da profissão é antiga: “Protocolamos o pedido na Secretaria Estadual de Emprego em 2001, mas não conseguimos nada. Entramos com um processo em 2004 e ele se arrasta até hoje. Fomos até o Ministério Público, ao Ministério do Trabalho, procuramos 70% dos deputados federais, falamos com vários senadores, mas só encontramos apoio agora com o deputado Edmir Chedid”. Para ele, a ufologia precisa de um “ambiente regulador que trate o tema de maneira profissional”.

OVNI

Hernán Mostajo, criador do Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência Victor Mostajo, da cidade de Itaara (RS),  discorda. “É uma bobagem que não é levada a sério por nenhum cientista”, afirma. “Não aprovo esse projeto porque a Ufologia não é uma ciência. Nós não temos como levar um disco voador a um laboratório. O primeiro passo, se quiséssemos fazer dela uma ciência, seria profissionalizar os estudos, mas não temos nomes capacitados para isso no país. As pessoas têm muita curiosidade sobre o tema, só que aqui ele é tratado com achismos, charlatanismo e invencionices. Quem concorda com esse projeto não tem o menor conhecimento sobre legislação nem sobre a busca de recursos públicos”.

Embora reconheça a falta de apoio dos grupos científicos brasileiros à empreitada do grupo, a qual ele credita a um preconceito contra a Ufologia, Clóvis se disse “surpreso” com as declarações de Mostajo: “Ele deveria ser o primeiro a apoiar, pois ampliaria o campo de estudos e o material do próprio museu. Essa declaração fala justamente contra ele. Com todo o respeito, Mostajo não conhece a Ufologia. Nem ele, nem nós. Nós queremos justamente entender. Não temos a intenção de nos promover ou exercer nenhum tipo de religiosidade”.

Os dois estudiosos, porém, concordam quanto à necessidade de estimular e evoluir as pesquisas sobre Ufologia no país. Clóvis Roque Júnior destacou que, hoje, os profissionais dedicados a isso no Brasil são autodidatas. “Nenhum país quer brincar com o assunto, então em alguns lugares como França e Estados Unidos existem órgãos oficiais dedicados a esses estudos. No Brasil, não temos nada”, lamenta. Para Mostajo, os estímulos devem respeitar a premissa de que a Ufologia não pode ser considerada uma ciência: “Em que Faculdade se forma um ufólogo? É preciso incentivar a pesquisa nos lugares corretos para que o Brasil saía do campo das crendices”.

A Ufologia têm entrado com bastante frequência na pauta do legislativo brasileiro nos últimos anos. Neste ano, as cidades de Varginha (MG) e Butirama (SP) aprovaram a criação do Dia do Ufólogo em 24 de junho. Na data também se comemora o Dia Mundial dos Discos Voadores. Hernán Mostajo explica que foi em 24 de junho de 1947 que se iniciaram os estudos sobre o tema: “Um aviador civil chamado Kenneth Arnold contou a amigos que viu nove extraterrestres durante um voo e a história se espalhou. Os jornalistas foram os primeiros a investigar a ufologia”, conta.

Em Campinas (SP), o Dia do Ufólogo é comemorado em 30/6. Já em Curitiba, no dia 2/10. Nenhum dos especialistas procurados pelo blog reconheceu nessas datas algum marco importante para a história da Ufologia. Na Câmara dos Vereadores de São Paulo, há um projeto de lei do vereador Arselino Tatto (PT) para que o Dia do Ufólogo seja celebrado na cidade também em 24 de junho.