Eu só tenho uma certidão de nascimento. E você? Pois eu conheço um cara que tem… três certidões de nascimento! Ele se chama Brasil e aí tem História.
CURIOSIDADES SIBRE O DESCOBRIMENTO
Outros viajantes estiveram aqui antes de Pedro Álvares Cabral. Portugueses, alguns espanhóis, pelo menos um italiano (descartei as lendas sobre fenícios e chineses chegando antes do ano 1000). Mas a data oficial é 22 de abril de 1500. E como se prova? Certidão de nascimento. Sempre aprendemos que essa certidão era a Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão oficial da esquadra de Cabral, mas temos ainda a Carta de Mestre João e a Relação do Piloto Anônimo.

Caminha pediu uma promoção para o genro

Com Caminha, ficamos sabendo que “nesta terra, em se plantando, tudo dá”, os índios andam nus e não se envergonham, para citar as duas observações mais conhecidas. E ele conta que foi nas oitavas – ou seja oito dias depois – da Páscoa, que se avistou um monte, ao qual se chamou Monte Pascoal. Que eu saiba, nenhum outro país tem certidão de nascimento, com dia, mês, ano e até as horas, por volta das 18h, em que a região foi avistada. Ah, claro, lembremos: ao final da Carta, Caminha solicita ao rei a transferência de um genro para posição melhor numa repartição pública. Sim, foi nosso primeiro pistolão.

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Como o Cruzeiro do Sul passou a guiar os marinheiros

A Carta de Mestre João, que era um sábio cientista, médico e astrônomo espanhol, nos dá uma visão científica. Em sua mensagem de apenas duas páginas (a de Caminha tem mais de vinte), ele destaca uma constelação que indicava perfeitamente o caminho para cá: o Cruzeiro do Sul. É a primeira vez que ela aparece na literatura mundial e, desde então, guiou marujos portugueses (e depois do Mundo) pelos mares do Sul. Se Caminha foi um antropólogo e geógrafo, João foi astrônomo. Essas duas cartas eram documentos oficiais e sigilosos, escondidos por décadas.

Uma bela quantia pelos segredos de navegação

A Relação do Piloto Anônimo foi a primeira a ser conhecida, numa publicação italiana de 1507, embora tenha sido escrita em português. Pelo conteúdo, o autor não era piloto, ou seja conhecedor dos mares (há raros termos técnicos de navegação). Pesquisas indicam o nome de um dos escrivães da armada cabralina, João de Sá. Por que o anonimato? Porque ele deve ter aceitado uma bela quantia por aqueles segredos de navegação – sim, um caso de espionagem contra o governo português! Suas constatações reforçam as de Pero Vaz e terminam sendo um belo fecho para essa trinca de documentos históricos – nossas certidões de nascimento. Os originais das duas primeiras estão na Torre do Tombo (ou seja “do registro”), em Portugal.

Warde Marx, especial para o “Você é Curioso?”