O Hotel Novo Mundo foi fundado em 1950 e, daquela época até os dias de hoje, é considerado um dos mais tradicionais da cidade do Rio de Janeiro. Localizado no coração da Praia do Flamengo, o Novo Mundo já hospedou célebres brasileiros, como a apresentadora Angélica, o cantor Cauby Peixoto, o ex-presidente Lula e o Rei Pelé.
Clássico por fora e moderno por dentro, o hotel guarda, quase escondido em um lounge da recepção, uma grande história: foi lá que o rei do futebol dormiu na noite em que marcou seu milésimo gol, contra o Vasco, no Maracanã, em 19 de novembro de 1969. Mais do que isso: Pelé sempre se hospedava no Novo Mundo quando ia ao Rio de Janeiro. Por isso, o hotel mandou produzir uma placa de bronze com a caricatura do jogador – de coroa e tudo! Presa em uma parede ao lado da máquina de café, a obra está exposta aos hóspedes mais observadores.
Há hoje apenas um funcionário que está trabalhando no Novo Mundo desde aquela época. O barman Antonio Martins, um senhor português de 76 anos, chegou ainda jovem ao Rio, em 1957. Nesse mesmo ano, Pelé, um adolescente de apenas 17 anos, começou a se hospedar lá. O rapaz tinha acabado de ingressar no time do Santos, que se concentrava no Novo Mundo quando ia à cidade disputar o Torneio Rio–São Paulo.
Pelé costumava ficar no quarto 1005, no 10° andar, que tinha um terraço com a vista para a praia. De 1967 a 1968, quem dividia o espaço com o Rei era o meia-atacante mineiro Buglê, seu companheiro no time do Santos. O hotel, que ficou famoso por hospedar o craque, juntava em sua porta fãs e repórteres sedentos por uma foto. Pelé era discreto, e só de vez em quando aparecia na sacada, para, com um aceno, arrancar gritos do público. Foi em uma dessas muvucas que surgiu seu apelido mais famoso. Pelo menos é essa a versão contada pelos funcionários do Novo Mundo. Em 1958, logo depois que o Brasil conquistou sua primeira Copa do Mundo, jornalistas franceses chegaram ao hotel gritando: “Onde está o rei”? O apelido pegou.
Até o fim de sua carreira no Santos, em 1974, o Hotel Novo Mundo abrigou o craque. Nesse ano, ele foi para Nova York jogar no Cosmos, mas, quando visitava a Cidade Maravilhosa, ainda se hospedava no Novo Mundo. Martins, que não gosta de aparecer em fotos, não se lembra ao certo quando foi a última vez que recebeu Pelé no restaurante, mas tem certeza de que ele não era mais jogador de futebol. Quanto aos mimos, o experiente barman jura que o craque não recebia tratamento especial: “Ele comia o mesmo que todo mundo. Na cozinha, a gente seguia as ordens dos diretores da equipe”. Prezando pela discrição, Pelé nunca foi visto consumindo bebida alcoólica no hotel. Segundo Martins, a exceção não foi quebrada nem na noite de seu milésimo gol: “Só servi drinques aos amigos de Pelé – a ele, nunca!”.
Atualização: o hotel fechou as portas em março de 2019
(com colaboração e fotos de Julia Bezerra)
Já me hospedei, recomendo!