O Theatro Net abriu as portas no último dia 18 no quinto andar do Shopping Vila Olímpia, em São Paulo, com um resgate que chamou muito a atenção. As recepcionistas vestiam uniformes inspirados nas aeromoças da companhia aérea brasileira Panair. Os vestidos azuis, enfeitados com cintos e chapéus vermelhos, imprimem um ar de antiguidade – ou vintage, como dizem os estilistas – e remetem à história de uma famosa empresa brasileira. “Colocamos comissárias de bordo para recepcionar os clientes porque queríamos proporcionar uma grande viagem”, afirma o empresário Frederico Reder, 30 anos, um dos sócios da casa. “Quando você está assistindo a um espetáculo do Gilberto Gil, por exemplo, precisa  esquecer o mundo de fora. Embarcar nesta experiência”.

A Panair surgiu em 1929, com o nome de NYRBA (New York-Rio-Buenos Aires) do Brasil, dois anos depois do nascimento da primeira companhia aérea brasileira, a Varig. A americana Pan Am, de olho na expansão do mercado, comprou a filial brasileira da NYRBA em 1930 e mudou seu nome para Panair do Brasil. A companhia sobreviveu por 36 anos, até ter suas portas fechadas pela ditadura brasileira, em 1965. O governo militar, por um decreto, suspendeu suas linhas. No mesmo período, as linhas foram transferidas para Varig, presidida pelo empresário Ruben Berta, apoiador do regime militar. A intervenção estatal virou até música.

“A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo nas asas da Panair” é um dos trechos da canção “Saudade dos Aviões da Panair”, composta por Fernando Brant, em 1974, e eternizada na voz de Elis Regina e Milton Nascimento. “Simbolizava muito meus tempos de menino, mas também era uma crítica aos militares: uma maneira de falar que antes da ditadura a vida era melhor”, conta o compositor mineiro. Ao nascer, a música levava o nome da Panair, mas Elis Regina achou mais prudente mudar para “Conversando no Bar”. Era uma maneira de fugir das garras dos censores. “Ela me ligou esbravejando que haviam censurado a música mesmo com a mudança do nome”, lembra Fernando Brant, que viajava pela Panair quando era pequeno, mas jura não se recordar da elegância das aeromoças (sim, naquele tempo, elas ainda não eram chamadas de comissárias de voo).

Em 1962, depois de conquistar o bicampeonato de futebol no Chile, a Seleção Brasileira voltou num avião branco da Panair, com uma listra verde no centro. Pousou em Brasília para os jogadores cumprimentarem o presidente João Goulart. No desembarque, além dos craques, uma aeromoça chamou a atenção: a gaúcha Ivone Preussler. Contratada em 1958 pela Panair, um ano antes de ganhar o bronze no Miss Brasília, Ivone encheu os olhos de craques como Pelé e Garrincha. A ex-aeromoça garante que a beleza, distribuída em 1,68m e 56kg, era valorizada também pelo uniforme. “Eram super chiques. No frio europeu, usávamos tailleur e camisa branca. No Brasil, colocávamos um vestidinho azul-claro”. Os uniformes eram trocados a cada 2 anos, e as funcionárias recebiam 2 peças de cada um. Para Ivone, o ponto alto foi o voo com Brigitte Bardot em 1964. “Ela estava lindíssima e ainda assim elogiou o nosso uniforme”, recordou a aeromoça que “amava os tailleurs azul-claros”.

Frederico Reder usou o Google para encontrar o “chique nostálgico” ideal que tanto buscava. Para a consultora de moda, Costanza Pascolato, ele acertou. “Muita gente tem usado coisas de antigamente, porque parecem ser mais agradáveis, era uma época mais formal”, aprovou a ítalo-brasileira, autora de três livros sobre moda. “É interessante usar esses aspectos vintages, remetem aos bons tempos de outrora. Viajar era um sonho, ninguém tinha dinheiro para pagar.” De acordo com Frederico Reder, fã do figurino, o público também aprova. “Os clientes estão achando bem charmoso, até me perguntaram se temos à venda. Ainda não pensei em vender, mas quem sabe não montamos uma grife?”.