Lamar Hunt, petroleiro bastante abastado, era louco por esportes. Em 1959, junto a outros apaixonados, criou a AFL (Association Football League), uma liga que pretendia competir com a NFL (National Football League). Deu certo. Assustada com o crescimento da AFL, a NFL resolveu propor uma união. A partir de 1966, cada uma faria o seu campeonato e os dois campeões se enfrentariam para decidir quem seria o campeão nacional. Certo dia, vendo sua neta com um brinquedo chamado Super Ball, Hunt teve o estalo de chamar essa partida de Super Bowl – no futebol americano universitário sempre existiu o hábito de denominar os jogos colocando a palavra “Bowl” no fim. O primeiro Super Bowl teve vitória do Green Bay Packers, da NFL, sobre o Kansas City Chiefs (time fundado por Hunt): 35 x 10 em jogo disputado na cidade de Miami – as finais são sempre em campo neutro definido previamente.
Neste domingo, o New England Patriots entra em campo para confirmar o favoritismo contra o Atlanta Falcons no NRG Stadium, em Houston, no Texas. Será a 51ª edição do Super Bowl. Da primeira edição para cá, muita coisa mudou. Hoje, o jogo é o evento esportivo mais assistido dos Estados Unidos e o segundo mais assistido do mundo, perdendo apenas para a final da UEFA Champions League. Em 2015, 114,4 milhões de americanos assistiram à vitória do New England Patriots sobre o Seattle Seahawks, transformando a partida no evento mais assistido da história da televisão.
No Brasil, as primeiras transmissões datam de um distante 1969, quando o narrador de futebol Walter Silva, o “Pica-Pau”, encontrou na TV Tupi fitas de transmissões enviadas pela rede norte-americana CBS. Curioso, ele colocou aquilo no ar e conclamou: “Se alguém souber algo sobre esse esporte, ligue para nós!”. O americano Thomas Noonan trabalhava em um banco em São Paulo e se tornou comentarista, transmitindo toda aquela temporada ao lado de Pica-Pau. Em 1992, Luciano do Valle levou o esporte para a TV Bandeirantes. Não durou muito. Em 1996, a TVA Esportes, embrião da ESPN, começou a transmitir os jogos. Foi justamente na ESPN que o esporte cresceu em popularidade no Brasil, a ponto de atrair uma legião de adeptos para cada um dos 32 times, e de reunir esses fãs em bares para acompanhar as partidas das temporadas que se encerram sempre com o Super Bowl. A temporada desse ano foi acompanhada não só pela ESPN, como também pelo Esporte Interativo.
A ousadia de Pica-Pau é apenas uma das 100 histórias da NFL contadas por Paulo Mancha, comentarista dos canais ESPN, no livro “Touchdown! 100 histórias divertidas, curiosas e inusitadas do futebol americano”, lançado pela Panda Books. E já que uma das características do Super Bowl é atrair a audiência até mesmo daqueles que nem mesmo sabem qual é o formato da bola, o Blog do Curioso reuniu quatro histórias presentes no livro sobre esse grande evento que escreve mais um capítulo de sua história esta noite:
Os mais famosos erros no Super Bowl
Erros, erros e mais erros! O nervosismo e a ansiedade de jogar um Super Bowl já atrapalharam muita gente. No Super Bowl XXVII, em janeiro de 1993, o defensive tackle Leon Lett, dos Cowboys, conseguiu recuperar um fumble e retornou sozinho em direção à endzone adversária. No entanto, decidiu comemorar antes da hora e, a centímetros de marcar o touchdown, teve a bola arrancada de suas mãos. Para sorte de Leon Lett, os pontos perdidos na jogada não fizeram falta e o time de Dallas venceu os Buffalo Bills por 52 x 17.
Menos sorte teve o kicker Scott Norwood, dos Bills. No Super Bowl XXV, disputado em janeiro de 1991, ele teve nos pés a chance de dar ao time de Buffalo a conquista inédita do troféu Vince Lombardi (o nome da taça é uma homenagem ao treinador que conquistou os dois primeiros títulos do Super Bowl). A oito segundos do final, disparou um chute de 47 jardas e errou. A partida terminou com vitória dos Giants por 20 x 19. Norwood ainda jogou mais um ano pelos Bills, mas o peso daquele erro foi demais para ele. Dispensado da equipe, abandonou o futebol americano e desapareceu por quase duas décadas. Nos últimos anos seu paradeiro foi descoberto: ele vive na pequena cidade de Aldie, na Virgínia, e trabalha como corretor de seguros.
A uma jarda do paraíso
Literalmente apenas uma jarda. Faltaram somente 91 centímetros para os Tennesse Titans terem a chance de vencer o Super Bowl. Em 30 de janeiro de 2000, o time participava pela primeira e única vez da grande final da NFL. Tinha no elenco bons jogadores, como o quarterback Steve McNair e o running back Eddie George, e enfrentava o poderoso Saint Louis Rams, de Kurt Warner, Marshall Faulk e Isaac Bruce.
Faltando 22 segundos para o fim da partida, o time de Saint Louis vencia por 23 x 16. Os Titans tinham a bola e, em uma jogada espetacular de McNair, a equipe de Tennesse avançou até a linha de dez jardas. Com seis segundos no relógio veio a derradeira chance de empatar. McNair recebeu o snap e lançou uma bola certeira para o wide receiver Kevin Dyson, que corria em rota furiosa para a endzone.
Nesse momento, o linebacker Mike Jones, dos Rams, fez aquele que ficaria conhecido como “O” tackle, derrubando Dyson a uma jarda da linha de gol. Dyson, caído, ainda tentou se esticar para colocar a bola na endzone, mas os juízes acertadamente declararam a jogada encerrada. Fim de partida. Os Rams se sagraram campeões da temporada de 1999 e aos Titans restou a frustração pela jarda perdida.
A pior jogada de todos os tempos no Super Bowl
No dia 1º de fevereiro de 2014, Patriots e Seahawks disputavam o Super Bowl no University of Phoenix Stadium, em Glendale, Arizona. Os Patriots venciam por 28 x 24, com apenas 26 segundos para o final. Mas os Seahawks tinham a bola na marca de uma jarda de campo adversário, no segundo down, e estavam prestes a marcar o touchdown que viraria o placar e lhes daria o título.
Todos – torcedores, jornalistas e jogadores – esperavam que a jogada fosse executada pelo running back Marshawn Lynch, a melhor arma ofensiva do clube de Seattle. Lynch fora o líder da liga em touchdowns terrestres no campeonato e, durante a partida, havia conseguido avançar pelo menos uma jarda em 22 das 24 vezes em que teve a posse de bola.
O coordenador ofensivo Darrell Bevell, porém, ordenou uma estratégia diferente, com a anuência do técnico Pete Carroll. Instruiu o quarterback Russell Wilson a fazer um passe curto para o wide receiver Ricardo Lockette, no lado direito, próximo a endzone. O resultado foi uma interceptação por parte do cornerback novato Malcolm Butler, dos Patriots, que adivinhou a jogada e se antecipou o suficiente para roubar a bola. Isso selou a vitória para a franquia da Nova Inglaterra – sua quarta conquista do Super Bowl. A estratégia malsucedida de Bevell e Carroll ficou informalmente conhecida como “O maior erro da história do Super Bowl”.
O brasileiro que quase desfalcou os Saints no Super Bowl
O ano era de 2010. Em 2 de fevereiro, Indianapolis Colts e New Orleans Saints preenchiam o saguão social do Sun Life Stadium, em Miami, para o Media Day – evento que reúne cerca de 1 mil repórteres do mundo para conversar com os jogadores que disputam o Super Bowl.
Naquela ocasião, um comentarista brasileiro, em sua primeira cobertura de Super Bowl in loco, vagava ansiosamente pelo salão, tentando gravar entrevistas com o maior número de atletas possível.
Ao ser alertado pelo cinegrafista da equipe que o quarterback Drew Brees havia acabado de chegar ao recinto, virou-se atabalhoadamente e… desastre! O jornalista tupiniquim pisou fortemente no pé direito do wide receiver Lance Moore, que passava por ali. Foi um encontro desproporcional: o mirrado Moore, de 86 quilos, e o entrevistador rechonchudo, com os seus 110 quilos.
O wide receiver gritou um “Wooow!”, olhou feio e saiu mancando para fora do salão. Felizmente para os Saints – e para a consciência do jornalista – a contusão não foi feia o bastante para tirar Lance Moore da grande final, ainda que ele tenha sido acionado apenas três vezes durante a vitória do clube de Nova Orleans por 31 x 17. Quanto ao brasileiro, reza a lenda que ele é, hoje, comentarista do canais ESPN e autor de um livro de curiosidades sobre futebol americano.