Amanhã, 1º de dezembro, é dia de conhecer os oito grupos da Copa do Mundo de 2018. Uma cerimônia especial será feita no Kremlin, a sede do governo russo. O ato mais esperado, o sorteio em si, terá 32 bolinhas divididas em quatro potes, seguindo a colocação de cada país no Ranking da Fifa. De cada um dos potes sairá um dos times que formará o grupo. Todo esse processo não leva mais do que meia hora.
Ainda assim, a Fifa faz do seu sorteio um grande evento: shows, discursos e homenagens completam a cerimônia que é transmitida pelas redes de TV no mundo todo. Mas nem sempre foi assim: ao longo desses 88 anos de Mundial, o sorteio mudou muito.
Uruguai 1930: nada de sorteio
Até o dia 7 de julho de 1930, cinco dias antes da abertura, não se sabia quais seriam os grupos (à época chamados de “secções”) da primeira edição da Copa do Mundo. A Fifa reuniu os 13 participantes em uma assembleia realizada na sede da Associação Uruguaia de Futebol, em Montevidéu, e decidiu, ao seu bel-prazer, qual seria a formação das chaves.“Nessas secções procura a commissão atender ao valor provável ou provado das suas forças em presença, com o intuito de torná-las as mais homogêneas possíveis”, explicou um representante da CBD, responsável por traduzir o regulamento ao jornal Folha da Manhã.
Obviamente deu confusão. A Fifa decidiu que os grupos seriam encabeçados por Uruguai, Argentina, Estados Unidos e Brasil. A medida revoltou o Paraguai, que julgava ser a terceira força do continente por ter sido vice-campeão sul-americano em 1929 – torneio que o Brasil não disputou. O Paraguai tentou por três dias reverter o quadro, sem sucesso.
A organização também alocou cada um dos quatro europeus em cada uma das chaves e aí restaram outros cinco países (quatro sul-americanos e o México). Aí surgiu outro problema: eram apenas quatro chaves. Uma primeira ideia foi a de manter quatro grupos de três e sortear a Bolívia para enfrentar um dos classificados já que esta estava em condição inferior devido aos conflitos políticos no país. Depois, no entanto, optou-se por colocar a Bolívia no grupo do Brasil e colocar quatro times em um dos grupos – no caso, o da Argentina. Os argentinos ameaçaram reclamar, mas acabaram cedendo.
Itália 1934: sorteio simples
Uma cerimônia bastante simples foi realizada no dia 1º de maio (26 dias antes do início do torneio) no Ambasciatori Palace Hotel. Eram 16 participantes e a estrutura do torneio era toda em mata-mata. Por isso, a Fifa selecionou apenas os oito países que não poderiam se enfrentar logo de cara: Itália, Alemanha, Brasil, Argentina, Holanda, Áustria, Tchecoslováquia e Hungria. Desses oito, três foram eliminados na primeira fase: Brasil, Argentina e Holanda.
França 1938: educação francesa
Realizado no Salon d’Horloge, em Paris, no dia 5 de março (a Copa começaria no dia 4 de junho), o sorteio seguiu quase as mesmas bases da Copa anterior. A diferença é que eram apenas seis os times que não poderiam se enfrentar nas oitavas-de-final. O problema é que a organização só conseguia definir cinco: Itália, Brasil, Argentina, Áustria e Tchecoslováquia. O motivo: os franceses estavam constrangidos em se autoproclamarem cabeças de série e cogitaram colocar a Polônia no lugar. No final das contas acabaram fazendo valer a autoestima e se tornaram cabeça-de-chave. O sorteio teve outra particularidade: só 15 das 16 seleções estavam definidas. A América Central ainda não havia escolhido seu representante, que viria a ser a seleção de Cuba. Os papéis foram retirados de uma urna por um garoto tão pequeno que precisou subir na mesa para auxiliar o presidente da Fifa, Jules Rimet.
Brasil 1950: o primeiro grande sorteio
Passado o hiato de 12 anos sem Copa do Mundo por causa da Segunda Guerra Mundial, o sorteio da Copa do Mundo ganhou outra dimensão no dia 22 de maio de 1950, quando a Biblioteca do Itamaraty, na capital Rio de Janeiro, abrigou o evento que definiu as chaves do mundial, que seria disputado no país a partir do dia 24 de junho. Embaixadores de oito países e ministros de outros quatro participaram. O sorteio não era dos mais rebuscados: de um lado ficavam os quatro cabeças de chave – Brasil, Inglaterra, Itália e Uruguai. Os demais 12 times foram colocados em ordem alfabética e ganharam bolinhas com números de 1 a 12. Assim, com a retirada das bolinhas do globo de bingo, foram sendo preenchidos os grupos.
Eram quatro grupos de quatro times, mas a última vaga do Grupo 4 estava em aberto porque Portugal havia recusado o convite para disputar a Copa. Pior: outros dois times desistiram depois do sorteio. A Índia, sorteada para o grupo 3, e a França, que viria também para o grupo 4. Resultado: os dois primeiros grupos ficaram com quatro equipes, o terceiro com três e o quarto com apenas dois países. Bastou ao Uruguai fazer 8 x 0 na frágil Bolívia para se classificar para o quadrangular decisivo.
Suíça 1954: sorteio com antecedência
A Copa do Mundo de 1954 foi a primeira a realizar o sorteio com grande antecedência. A cerimônia no Saint Gotthard Hotel, em Zurique, foi realizada ainda no dia 30 de novembro de 1953. Pela primeira vez, o sorteio foi realizado em outra cidade que não a da final (a capital Berna). Naquele Mundial, a Fifa enfim havia conseguido chegar ao formato de 16 equipes divididos em quatro grupos de quatro. Dividiu os classificados em quatro potes, em um sistema parecido com o atual: no pote 1 estavam a Suíça, país-sede, a Hungria, então campeã olímpica, e a dupla Uruguai e Brasil, campeã e vice da edição anterior da Copa do Mundo.
A peculiaridade em relação ao sorteio morava no regulamento esquisito do Mundial. Os outros 12 times foram divididos nos três potes restantes pelo critério do ranking da Fifa. Ocorre que embora as chaves tivessem quatro times, cada time faria apenas dois jogos. Sendo assim, o time do pote 1 não enfrentaria o do pote 3 e o do pote 2 não enfrentaria o do pote 4. Outra curiosidade: a formação dos potes foi feita antes do fim das eliminatórias. Assim, a modesta Turquia, que pelo seu ranking ficaria no pote 4, subiu para o pote 3, ocupando a vaga reservada para a Espanha, eliminada pelos turcos nas Eliminatórias.
Suécia 1958: na era da televisão
A Copa do Mundo que revelou a dupla Pelé e Garrincha já começou fazendo história no sorteio. O evento realizado no dia 8 de fevereiro de 1958 foi o primeiro a ser transmitido pela televisão, ainda que em videotape. Mais do que isso: foi feito nos estúdios da Cirkus Television, em Estocolmo. Foi a primeira vez em que não houve o critério de “cabeças-de-chave” para o desenvolvimento do sorteio. Os quatro potes foram definidos regionalmente: Europa Ocidental, Europa Oriental, Grã-Bretanha e América.
O Brasil chegou ao sorteio em Estocolmo com preocupações maiores que as bolinhas: um intenso racha na CBD colocou de lados opostos o presidente Paulo Machado de Carvalho e o vice João Havelange para a escolha do técnico da Seleção no Mundial. O sorteio não foi nada bom para o Brasil: sem critérios técnicos para a formação dos potes, saiu um grupo da morte com três dos grandes favoritos ao título: Brasil, União Soviética e Inglaterra, com a Áustria completando a chave. O caminho para o título inédito não teve um início fácil.
Chile 1962: surge a palavra “grupo”
O sorteio da Copa do Mundo do Chile, realizado no dia 18 de janeiro de 1962, no Carrera Hotel em Santiago, foi o primeiro onde a Fifa usou a palavra “grupo” (“group”) – anteriormente usava-se o termo “pool”, cujo equivalente mais próximo em português é “chave”. Mais uma vez usou-se o critério regional para a composição dos potes, só que com algumas “licenças poéticas”: dois potes europeus unindo países ocidentais e orientais e um “resto do mundo” juntando europeus e americanos. O Brasil e todos os outros queriam fugir do Grupo A, cujos jogos seriam na quente e distante Árica. Deu certo pois o Brasil ficou no Grupo C, disputado em Viña del Mar. Quem deu azar de novo foi a União Soviética: além de cair de novo no grupo mais forte junto com Uruguai, Iugoslávia e Colômbia esse ainda foi o grupo disputado em Árica.
Inglaterra 1966: primeira transmissão ao vivo
A Copa do Mundo de 1966 marcou outra grande mudança de patamar dos sorteios para as Copas do Mundo. Realizada no dia 6 de janeiro no Royal Garden Hotel em Londres, a cerimônia foi planejada como uma atração para as redes de televisão europeias que cobriram e transmitiram o evento ao vivo. O procedimento foi exatamente o mesmo das edições anteriores. Iniciou-se também a tradição do sorteio marcar o momento em que o presidente da Fifa – à época o britânico Stanley Rous – recebe a taça do Mundo das mãos de um representante da confederação do país atual campeão – no caso o Brasil através de Silvio Pacheco. O Brasil, aliás, ficou satisfeito com o seu grupo, que tinha Hungria, Portugal e Bulgária. Acabou eliminado na primeira fase.
México 1970: ensaio geral e transmissão pelo rádio para o Brasil
Um dia antes do sorteio realizado no Maria Isabel Sheraton Hotel, na Cidade do México, a Fifa realizou um ensaio geral para que nada desse errado na cerimônia realizada no dia 10 de janeiro, iniciando assim uma tradição que resiste até hoje. Chegou-se a pensar em dirigir os países sul-americanos para os grupos de maneira livre, pensando em questões geográficas, mas optou-se por decretar apenas que o México, país-sede, jogaria no Grupo A. Pela primeira vez as emissoras de TV do Brasil se interessaram na transmissão do evento, mas não houve acordo. Dessa forma, apenas as rádios puderam transmitir ao vivo a cerimônia. No dia seguinte ao sorteio, a Folha de S. Paulo estampou: “Brasil na chave mais dura do Mundial”. O confronto contra a Inglaterra, outra das grandes favoritas, era tão aguardado que a organização do torneio mudou a tabela para evitar que o jogo fosse logo na 1ª rodada – passou para a 2ª. Mais uma vez a chave difícil deu sorte: Brasil tricampeão.
Alemanha Ocidental 1974: uma saia justa do tamanho do Muro de Berlim
A partir da Copa do Mundo de 1966, a Fifa passou a cuidar com mais esmero do sorteio. Para a Copa do Mundo de 1974, por exemplo, a entidade preparou um grande evento no dia 5 de janeiro em um estúdio de uma rádio de Frankfurt. Mais uma vez se dividiram os times regionalmente, mas escolheram-se quatro países cabeças-de-chave que não poderiam se enfrentar na fase de grupos: Alemanha Ocidental, Brasil, Itália e Uruguai – os quatro campeões classificados, já que a Inglaterra estava fora. O que não estava nos planos de ninguém era que o garoto da Schönberger Sängerknaben, a Orquestra de Berlim, sorteasse as vizinhas e inimigas Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental para o mesmo grupo. Assim que o menino leu o nome da Alemanha do lado de cá do muro para o grupo da Alemanha do lado de lá um tumulto se instalou no local. A Fifa, porém, manteve assim o chaveamento – a Alemanha Oriental venceu por 1 x 0, mas os donos da casa levaram o título. Também foi um sorteio realizado sem todos os times definidos: faltava o confronto entre Iugoslávia e Espanha, que decidiria justamente quem faria o jogo de abertura contra o Brasil – deu Iugoslávia.
Argentina 1978: neto de João Havelange é a estrela
O evento realizado no Teatro San Juan, em Buenos Aires, no dia 14 de janeiro de 1978, foi o primeiro sorteio transmitido ao vivo pelas redes de televisão do Brasil. Além dos quatro cabeças de chave – Argentina, Alemanha Ocidental, Brasil e Holanda – já terem o número de seus grupos definidos, a Fifa escolheu também a chave onde ficaria a Itália – a mesma da Argentina. O esquisito método de divisão dos potes – uma fórmula matemática que a própria Fifa consideraria equivocada – revoltou a imprensa francesa. O país, um dos maiores opositores à realização da Copa em uma Argentina dominada por sangrenta ditadura, foi colocado no pote 4, o mais fraco, ao lado de Irã, Tunísia e Áustria.
Do lado brasileiro, a reclamação era outra: para evitar que houvesse apenas times europeus em um mesmo grupo, a Fifa determinou que os times europeus do pote 4 – Áustria e França – iriam para os grupos encabeçados pelos sul-americanos Argentina e Brasil. Assim, sobraram Tunísia e Irã para as chaves de Alemanha Ocidental e Holanda. O técnico Cláudio Coutinho chiou, mas de longe: ele assistiu ao sorteio pela TV, na sede da CBD. O presidente da Confederação? Bom, esse só ficou sabendo do resultado depois: o almirante Heleno Nunes não abria mão do seu ritual de ir à igreja aos sábados às 18h, mesmo horário do sorteio.
Já João Havelange, brasileiro que àquela altura já era o presidente da Fifa, não só esteve presente como colocou o seu neto Ricardo, de 3 anos, para sortear as bolinhas. Eufórico com o grupo da Alemanha Ocidental – que tinha Polônia, México e Tunísia – o técnico Helmut Schön declarou: “Quase me levantei para abraçar o Ricardinho”. O religioso Heleno Nunes também ficou feliz com a chave do Brasil, que tinha Suécia, Espanha e Áustria: “O que a mão do homem nos fez de ruim, a mão de um menino, guiado por Deus, consertou”.
Espanha 1982: tecnologia furada
Empolgada com as inovações tecnológicas daquele início de anos 1980, a Fifa preparou uma super cerimônia para o dia 16 de janeiro no Palácio de Convenções e Eventos de Madri – foi a última vez que o sorteio aconteceu já no ano do Mundial. Além de um enorme esquema de segurança – temendo principalmente reações de grupos separatistas como o ETA, que já naquela época lutava pela Independência do País Basco -, a Fifa preparou um sofisticado sistema tecnológico para a cerimônia. Só se esqueceu de programar as máquinas para impedir o cruzamento de dois países sul-americanos na mesma chave. Com isso, vários grupos foram refeitos ao vivo e manualmente durante o sorteio para impedir que Chile e Peru caíssem no grupo do Brasil.
A cerimônia foi presidida pelo príncipe Felipe, filho do rei Juan Carlos que à época tinha apenas 13 anos. Nem tudo foram más notícias: Argélia e Camarões confirmaram naquele dia suas presenças no Mundial – havia uma ameaça de boicote porque a Nova Zelândia, que mantinha relações esportivas com a África do Sul ainda sob o apartheid, iria participar do torneio. No Brasil, Telê Santana foi um dos poucos técnicos que não foram até Madri. Ele viu o sorteio dos estúdios da Globo, onde comentou a chave do Brasil logo na sequência, frustrando a comitiva de repórteres que se deslocou até o Rio de Janeiro para entrevistá-lo na sede da CBD.
México 1986: sorteio em meio à tristeza
O sorteio para a Copa do Mundo de 1986 aconteceu no dia 15 de dezembro de 1985 em um México ainda de luto pelas milhares de vidas perdidas no terremoto que abalou o país em setembro do mesmo ano. A cerimônia durou apenas 23 minutos e foi realizada nos estúdios da Televisa, canal mexicano cujo dono tinha excelentes relações com João Havelange e fez com que o país surgisse como bom plano B para o Mundial depois da desistência da Colômbia. Pela primeira vez a Fifa se preocupou de maneira mais forte com a decoração, que era toda inspirada na cultura maia. O evento foi transmitido para cerca de 150 países. França e Bélgica lamentaram a presença da Inglaterra, que não havia se classificado para as duas Copas anteriores, como cabeça-de-chave. Prevaleceu, alegava João Havelange, a tradição.
Itália 1990: da música clássica a Hollywood
Para a cerimônia do sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 1990, a Fifa resolveu apelar para grandes astros do mundo do futebol e de fora dele. À época secretário-geral da entidade, Joseph Blatter esteve acompanhado dos jogadores Pelé, Karl-Heinze Rumenigge e Bobby Moore, do tenor Luciano Pavarotti e da atriz Sophia Vergara. Foi a primeira vez que a cerimônia teve mais do que o sorteio: apresentações de dança e uma versão misturando rock e ópera para o hino da Copa do Mundo completaram o evento realizado no dia 9 de dezembro no Palazetto dello Sport, em Roma. Pippo Baudo, famoso apresentador de TV italiano, conduziu os trabalhos intercalados por exibições de pequenos filmes sobre a história da Itália.
Estados Unidos 1994: Pelé fica de fora do sorteio que perdeu para o Palmeiras
Se nas duas edições anteriores quatro emissoras de TV transmitiram o sorteio para o Brasil, na Copa do Mundo de 1994 foi bem diferente: nenhum canal exibiu a cerimônia. Primeiro porque ninguém quis pagar os valores (não revelados) pedidos pela organização. Depois, no caso da Globo, porque o sorteio aconteceu no mesmo 19 de dezembro e praticamente no mesmo horário da final do Campeonato Brasileiro de 1993, que terminou com título do Palmeiras contra o Vitória. A Globo mandou apenas uma equipe de reportagem para o Las Vegas Convention Center e entrou com links ao vivo a cada adversário do Brasil que se definia.
Um dos membros da cobertura global era Pelé, que despontava como um embaixador do Mundial nos Estados Unidos, onde foi praticamente um introdutor do futebol. Escalado como astro maior da cerimônia e responsável por tirar as bolinhas das urnas, o Rei acabou ficando de fora. É que, nos dias anteriores ao evento, ele acusou Ricardo Teixeira, presidente da CBF e genro de João Havelange, presidente da Fifa, de corrupção na negociação dos contratos de direitos de transmissão do Brasileirão. Havelange tomou as dores e excluiu Pelé da cerimônia, o impedindo também de ser um dos 4.500 convidados da cerimônia. Pelé ainda elogiou Havelange, destacando que seu problema era com Ricardo Teixeira, mas ficou mesmo de fora do sorteio, sendo substituído por Michel Platini. Ele pelo menos conseguiu um lugar entre os convidados. Artistas como o ator Robin Williams também ajudaram a formar os grupos.
França 1998: a céu aberto
Foram 38 mil pessoas presentes no Stade Velodrome, em Marselha, para acompanhar o sorteio dos grupos da Copa do Mundo da França. Pelé, ainda sustentando as rusgas com Ricardo Teixeira, mais uma vez teve que assistir a tudo das tribunas enquanto outros craques como o alemão Franz Beckenbauer e o liberiano George Weah (único jogador eleito melhor do mundo a nunca ter jogado uma Copa) retiravam as bolinhas dos globos. Outro brasileiro, o técnico Zagallo, foi quem roubou a cena: ele denunciou um complô mundial para evitar que a Seleção Brasileira fosse novamente campeã, o que segundo ele se manifestaria já no sorteio. Se havia, não deu certo: o Brasil caiu em um grupo bastante tranquilo com Escócia, Marrocos e Noruega. Até Zagallo mudou o discurso: “Já estamos na segunda fase”.
Coreia do Sul e Japão 2002: Pelé pé-quente e sueco azarado no sorteio das vacas magras
Se a primeira Copa do Mundo disputada em dois países impressionou o mundo pela modernidade dos estádios, o sorteio dos grupos passou longe de ostentar qualquer luxo. Pelo contrário: naquele dia 1º de dezembro de 2001, a Fifa promoveu na cidade sul-coreana de Busan um sorteio que escancarou os problemas financeiros do Mundial. O prejuízo dos organizadores era tão grande que, dos 1.200 seguranças previstos para a cerimônia realizada no Centro de Convenções e Eventos de Busan, apenas 180 estiveram de fato no local. Nem a revista dos convidados foi feita na entrada.
O sorteio foi um dos mais complexos da história. Era preciso separar bem os grupos que jogariam no Japão ou na Coreia do Sul na primeira fase e também em que momento precisariam viajar de um país para o outro caso fossem ao mata-mata – o grupo mais cobiçado era o F, que permitia ao líder jogar todo o Mundial, exceto uma eventual disputa pelo terceiro lugar, no Japão. Depois de ser colocado na geladeira por duas vezes, Pelé esteve no palco retirando as bolinhas. O Rei mostrou que, além de ser bom com os pés, também ajudava o Brasil com as mãos: a Seleção caiu em uma chave com Turquia, Costa Rica e China. “Fiquei aliviado”, admitiu o treinador Luiz Felipe Scolari. Já o técnico da Inglaterra, o sueco Sven-Goran Ericsson, não teve tantos motivos para comemorar: “Vamos enfrentar a Argentina, melhor time da América do Sul; a Nigéria, melhor time da África; e a Suécia, meu país de origem”.
Alemanha 2006: cabeça de chave estranho e sede simbólica
A escolha da sede do sorteio da Copa do Mundo de 2006 foi bastante simbólica: a cidade de Leipzig, a única das sedes do Mundial que fazia parte da antiga Alemanha Oriental. Já, quando o assunto eram os cabeças de chave do sorteio, quem destoava era o México. Causou estranheza a presença dos mexicanos ao lado de seleções tradicionais como Brasil, Argentina, Itália, Espanha, Alemanha, Inglaterra e França. Naquela oportunidade, a Fifa voltou a usar o seu ranking – e também as últimas participações em Mundiais – como critério soberano, ignorando aspectos políticos ou a tradição das equipes. Dessa vez Pelé não deu tanta sorte para o Brasil – sorteou o bom time da Croácia para a chave brasileira -, mas complicou a vida dos argentinos ao colocar a Holanda no grupo dos hermanos – que ainda tinha a bem cotada seleção da Costa do Marfim e a Sérvia e Montenegro.
África do Sul 2010: festa africana acaba no sorteio
A primeira Copa do Mundo realizada no continente africano ficou marcada pela alegria dos anfitriões. Já no sorteio dos grupos, realizado no dia 4 de dezembro, muitos sul-africanos foram para a porta do Centro de Convenções da Cidade do Cabo com suas vuvuzelas. A cerimônia – comandada pelo secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, e pela atriz sul-africana Charlize Theron – contou com apresentações de danças típicas. A alegria dos sul-africanos durou pouco: a Seleção anfitriã caiu no mesmo grupo de França, Uruguai e México. O grupo difícil foi fatal para o selecionado comandado por Carlos Alberto Parreira, que se tornou o primeiro país-sede a ser eliminado logo na primeira fase.
Brasil 2014: gafes e o nascimento de uma zebra histórica
O sorteio da Copa do Mundo do Brasil foi o primeiro a ser realizado em uma cidade que não recebeu jogos do Mundial: Costa do Sauípe, distrito de Mata de São João, a 56 quilômetros de Salvador, abrigou a cerimônia realizada no dia 6 de dezembro. Fernanda Lima apresentou a festa ao lado de Jerome Valcke – aquele mesmo que sugeriu que a Fifa deveria ter dado um “chute no traseiro” do Brasil. O vestido de Fernanda Lima viralizou na internet e ganhou uma série de memes. Chamou tanta atenção que foi chamada posteriormente para apresentar a cerimônia de coroação do melhor jogador do mundo logo no mês seguinte. Camila Pitanga, Rodrigo Hilbert, Emicida e o Olodum foram algumas das outras atrações.
A festa não chegou a ter uma gafe do tamanho da cometida pelo chef Alex Atala no sorteio da Copa das Confederações (ele confundiu os potes e formou os grupos de modo errado), mas teve os seus momentos que fugiram do script. Valcke, por exemplo, deixou uma bolinha cair no chão. Ghiggia, carrasco do Brasil na Copa do Mundo de 1950, não conseguia abrir a bolinha que retirou do globo. Ele não deu muita sorte para o Uruguai. A chave dos sul-americanos foi a mais difícil da história, pois tinha outras duas campeãs mundiais: Inglaterra e Itália. Pior ainda para a Costa Rica, que completou o grupo e se tornou a grande azarada do sorteio. No fim das contas, a surpresa: a Costa Rica se classificou em primeiro lugar, deixando Itália e Inglaterra pelo caminho logo na primeira fase. O técnico da Inglaterra também saiu da Bahia com gosto amargo na boca. Antes do sorteio, Roy Hodgson declarou: “Prefiro estar no grupo da morte do que jogar em Manaus”. Acabou caindo no grupo da morte com o primeiro jogo em Manaus.
(Com reportagem de Leonardo Dahi e fotos de divulgação da Fifa)
Bom dia Marcelo Duarte!
Estava comentando com amigos sobre a existência no passado, de um membro alemão da Fifa que era responsável pelos sorteios e montagens de cabeças de chaves e grupos das Copas, que sempre se preocupou com que a ALE só pegasse o BRA em finais e nunca antes.
Você conhece essa história? Sabe mais detalhes? Se souber por favor nos conte.
Grande abraço!
André.
Bom dia Marcelo Duarte!
Estava comentando com amigos sobre a existência no passado, de um membro alemão da Fifa que era responsável pelos sorteios e montagens de cabeças de chaves e grupos das Copas, que sempre se preocupou com que a ALE só pegasse o BRA em finais e nunca antes.
Você conhece essa história? Sabe mais detalhes? Se souber por favor nos conte.
Grande abraço!
André.