Um dos temores dos políticos investigados em casos de corrupção, os grampos telefônicos são considerados uma prova quase irrefutável. Eles são feitos a partir de uma determinação judicial repassada para as operadoras de telefonia, que usam softwares para monitorar todas as ligações feitas com a linha grampeada.

Parece simples, mas não é tão fácil assim identificar as vozes nas escutas. Tanto não é que existe um profissional dedicado exclusivamente a isso: é o foneticista. A tecnologia ajuda na primeira etapa: programas de computador identificam cacoetes de fala como ruídos, pausas ou palavras repetidas muitas vezes. Depois, um filtro também digital elimina a chiadeira da gravação para facilitar a percepção completa do áudio.

Depois, o trabalho passa a ser artesanal. O foneticista, um técnico de áudio e outro especialista em linguística transcrevem todo o áudio. Além das falas, eles destacam ruídos como uma porta se abrindo ou a sirene de uma fábrica: “Esses sons podem nos ajudar a identificar o local da interceptação”, explica Ricardo Molina, foneticista dao Instituto de Pesquisa de Som, Imagem e Texto.

Na etapa seguinte, os técnicos comparam o grampo analisado com os outros interceptados na mesma linha. É uma etapa decisiva: além do tom de voz, aqueles cacoetes de fala citados no início e as expressões repetidas mais vezes podem confirmar a identidade do grampeado. “A palavra perfeita para análise é longa e tem sons diferentes”, conta Molina. Os sotaques regionais são outro ponto importante.

Por fim, na última etapa, a tecnologia volta a entrar em cena: as palavras repetidas em todos os grampos são colocadas em uma espécie de “sonógrafo digital”. Ele divide a palavra em vários fragmentos e detecta a frequência sonora de cada fragmento. Essa frequência é praticamente impossível de se repetir entre pessoas diferentes: “Nem mesmo um bom imitador consegue simulá-la”, garante Molina.