Você já ouviu falar de Francis Hallawell? Praticamente desconhecido no Brasil, o britânico-gaúcho é um importante personagem da história do jornalismo no país: o “Chico da BBC” foi o único correspondente brasileiro de rádio na Segunda Guerra Mundial. A história de Francis Hallawell chamou a atenção de Rose Esquenazi, professora do curso de Comunicação Social da PUC-RJ, em 1972. No próximo dia 22 de agosto, ela lança seu livro O rádio na Segunda Guerra: no ar, Francis Hallawell, o Chico da BBC, pela Editora Insular. A obra é resultado de uma vasta pesquisa que se iniciou em 2011, quando Rose Esquenazi começou a trabalhar em sua tese de dissertação de mestrado.
Nascido em Porto Alegre em 1912, Francis Hallawell, filho de pais ingleses, trabalhava numa empresa petrolífera quando estourou a Segunda Guerra. O sentimento nacionalista britânico – ele queria de qualquer forma defender os Aliados – o levou a se alistar no Exército, em 1944. Aos 32 anos, Hallawell já tinha passado da idade de combater no front. Ao engenheiro de sotaque britânico que nunca tinha trabalhado com jornalismo foi oferecida uma vaga como correspondente de rádio da BBC. “A emissora só exigia que fosse bilíngue e que tivesse uma dicção razoável”, justifica Laurindo Leal, sociólogo autor do livro Vozes de Londres: Memórias Brasileiras da BBC, da Edusp.
Ao longo dos dois anos, Francis Hallawell descreveu a vida cotidiana dos soldados usando recursos da crônica aprendidos com o colega Rubem Braga, correspondente do jornal Diário Carioca. Na época, não havia fita magnética para a gravação das entrevistas e das reportagens de rádio. Para contornar o problema, a BBC criou um equipamento semelhante a uma vitrola portátil. Era uma caixa de 15 quilos equipada com uma bateria, um microfone, um gravador e uma manivela para dar corda, que gravava sons em um disco virgem de vidro. Até chegar aos ouvintes no Brasil, o material percorria um longo caminho. Primeiro, viajava de jipe até Florença. De lá, era despachado no malote do Exército para a BBC de Roma. A BBC de Roma, por sua vez, transmitia a gravação para a sede em Londres, que regravava o material em disco de acetato e então o irradiava para o Brasil. Complicações no transporte dos discos eram contornadas com o uso do telegrama. “Hallawell tinha que entregar uma reportagem por dia para a BBC”, conta Rose Esquenazi. “Para conseguir dar conta da demanda, ele pedia material para seus colegas cronistas”.
Segundo a pesquisadora, os correspondentes brasileiros tinham que driblar três tipos de censura para ter seu conteúdo publicado: a censura de guerra, a censura do Exército brasileiro e a censura do DIP (Departamento de Imprensa em Propaganda), criado no Brasil em 1939. “Por isso, o noticiário da guerra era menos crítico e mais metafórico”, justifica Esquenazi. Entre os entrevistados de Francis Hallawell, esteve um cabo alemão capturado por uma patrulha brasileira. “São muito agressivos e violentos; nossos tenentes e sargentos nos avisam para ficar longe deles”, disse o prisioneiro sobre os soldados brasileiros ao Chico da BBC. Mas a cobertura de Francis Hallawell ficou conhecida por uma emocionante transmissão do Exército brasileiro cantando o hino nacional dentro da Catedral de Pisa, na Itália, ao som de bombas explodindo ao fundo:
Francis Hallawell ficou na Itália até o fim da guerra. Em 1946, voltou ao Brasil para atuar como empresário em Porto Alegre. Publicou o livro Escatoletas da Itália, uma seleção de crônicas da Segunda Guerra transmitidas para o Brasil. O nome é uma referência à caixinha usada pelo Exército dos Estados Unidos para distribuir refeição às tropas (arroz, feijão e carne moída). Os soldados guardavam a caixinha e a usavam para colocar objetos que não queriam mais, e então trocá-la com outros soldados. Francis Hallawell nunca mais trabalhou com o jornalismo. Morreu em 2004, em sua cidade natal, sem deixar filhos. A viúva Juliene, belga de 92 anos, mora em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro.
Serviço
Lançamento do livro O rádio na Segunda Guerra: no ar, Francis Hallawell, o Chico da BBC, de Rose Esquenazi
22 de agosto
Livraria da Travessa – Botafogo – Rua Voluntários da Pátria, 97, Botafogo Rio de Janeiro – RJ
Excelente trabalho sobre um grande homem Mr.Francisabia falar. Amigo, simpático, culto, bom marido, sabia falar com os empregados da casa. ao ponto de cuidar do filho da oassadeira cuidando dele como filho fosse que dormia em seus aposentos. grande empresario METROWICK DO BRASIL , locomotivas inglesas a oleo para o Brasil, escritório na praca Pio x, 78 6 andar- Candelaria – RIO DE JANEIRO