Os números já são preocupantes. Entre  janeiro e abril, a cidade de São Paulo registrou 4.514 pessoas infectadas pelo vírus da dengue, contra 2.617 casos em 2013 inteiro. Medidas preventivas, como não deixar água parada ou tampar os lixos, são importantes para evitar o nascimento de novos focos. Aumentou também a procura por repelentes.  Mas não um repelente qualquer. Um novo nome foi incorporado ao vocabulário dos paulistanos. Os médicos alertam que o repelente eficaz contra o Aedes aegypti  deve conter um princípio ativo chamado Icaridina. A Organização Mundial de Saúde (OMS) acrescenta também outros princípios ativos, chamados Deet e IR3535.

Nos anos 1990, em pleno verão tropical, o exército francês estava em missão na Guiana Francesa, bem perto da divisa com o Amapá.  A grande luta não era bélica, mas contra os mosquitos transmissores da malária, que causavam baixas de muitos soldados. O exército francês encomendou a elaboração de um novo repelente, que fosse realmente eficaz contra aqueles insetos. A Bayer desenvolveu a Icaridina. Baseado na criação da Bayer, o laboratório francês Osler e o médico Eric Lundwall, do Hospital Avicennes, de Paris, lançaram um produto chamado Exposis. O repelente passou a ser usado pelos exércitos da Alemanha, da Áustria e da Suíça. O produto funcionou e está sendo novamente usado para combater mosquitos tropicais.

MOSQUITO DA DENGUE

Paulo Guerra, 49 anos, abriu o escritório do Laboratório Osler em São Paulo há 10 anos. O produto chegou ao Brasil de uma maneira curiosa. “Minha irmã é casada com o criador do Exposis, Eric Lundwall”, conta. “Ela foi fazer doutorado na França, conheceu-o e ele quis trazer o produto para o clima tropical brasileiro.”  Guerra começou com dois funcionários e hoje já são 47 colaboradores na empresa.  O repelente com Icaridina da Osler vem sendo indicado por médicos como o mais eficaz contra a dengue. “O repelente cria uma espécie de nuvem de 4 centímetros na área aplicada”, explica Guerra. “A Icaridina evapora durante 10 horas seguidas, diferentemente do Deet, que age por 20 minutos com alta eficácia”. No Brasil, a  Icaridina, da marca Exposis, contém 20% de concentração em sua edição gel e 25% na edição spray, números exatos aos recomendados pela OMS.  Já os compostos por Deet necessitam de 30% a 50% para terem sua funcionalidade garantida. Baseados no Deet, os repelentes Off  e Autan, em loção e spray, contêm de 6% a 9% de concentração. O Super Repelex, também composto por Deet, é o mais eficaz neste princípio ativo, só que com apenas 14,5% de concentração. A assessoria de imprensa da Off foi procurada pela reportagem, pediu que as perguntas fossem feitas por e-mail, mas não mandou as respostas.

A dermatologista Sylvia Ipiranga faz um alerta importante sobre o uso eficaz do repelente.  “Quando há perfumes adocicados nos repelentes, eles fazem o efeito contrário”, explica. “Eles atraem os insetos, e não os afastam.” No mercado atual, a maioria possui perfume. Em relação ao modo de uso, Paulo Guerra, da Exposis, ensina como ter um melhor aproveitamento do produto. “O importante é passar bastante em todas partes expostas”, diz. ” Passar a cada quatro horas ou quando entrar em contato com a água, evitando o contato com mucosas como olhos, boca e narinas.”

Já alguns médicos não gostam de apregoar diferenças entre os repelentes.  Stefan Cunha Ujvari, mestre em infectologia na Unifesp, afirma: “Vivemos em um país tropical. O efeito do repelente dura 4 horas, a pessoa deve aplicar e reaplicar por esse período durante dois meses. É realmente inviável.” E ele completa: “Não há diferenças entre repelentes. Alguns duram um pouco mais, outros um pouco menos. O pior entre eles é o composto por Citronela, cujo efeito termina em 15 minutos.” Unanimidade mesmo só para alertar contra os chamados “métodos tradicionais. O infectologista Ralcyon Teixeira, do Hospital Emílio Ribas, acusa a ineficácia de uma crença popular. “Usar alho e vitamina B para repelir insetos é um grande mito”, avisa. “Nunca foi comprovado cientificamente.”