FIGURINHAS DE FUTEBOL O aumento abusivo de preços chegou também aos álbuns de figurinhas. Descobri que, entre as Copas de 2006 e 2010, o pacote de figurinhas do álbum oficial da Copa do Mundo sofreu um aumento de preço de 25%, passando de 60 para 75 centavos a unidade. Em 2012, o pacote com cinco figurinhas do álbum da Liga dos Campeões da Uefa chegou às bancas por 85 centavos, revelando um aumento de 13,3% em relação ao produto da Copa de 2010. Quem já comprou o álbum da Copa das Confederações deste ano pode até pensar que o preço não subiu tanto. Cada pacotinho custa 90 centavos, valor 5% mais alto do que o do ano passado. Só que preste atenção: desta vez, o colecionador recebe apenas QUATRO figurinhas no pacote. Proporcionalmente, portanto, cada figurinha sofreu um aumento de 32% – a mais alta desde 2006! Em resumo: uma figurinha que custava 12 centavos em 2006 sai hoje por quase 23 centavos – um aumento de 91% no preço do produto.

O hábito de colecionar figurinhas vem do comecinho do século passado. O primeiro álbum de figurinhas do Brasil começou a circular no início dos anos 1900. Era uma publicação da tabacaria Estrela de Nazareth, e cada uma das 60 figurinhas correspondia a uma bandeira de um país. Mas as figurinhas só foram cair no gosto popular depois do lançamento do álbum de estampas dos sabonetes da então recém-inaugurada Eucalol, em 1925. Foi uma estratégia de marketing da empresa para se fixar no mercado. Quem comprava uma caixa com três sabonetes levava de brinde três figurinhas. Nos anos seguintes, vieram os famosos álbuns de balas (Balas Futebol, Balas Cinédia, Balas Fruna, Balas Ruth), que fizeram sucesso com o público infantil e, a exemplo do que aconteceu com a Eucalol, alavancaram a indústria de doces.

Em 1961, veio a prova da consolidação do nicho das figurinhas no mercado de entretenimento infanto-juvenil: a fundação da italiana Panini. Os irmãos Panini eram, desde 1945, donos de uma banca de jornal em Modena, na Itália. Em 1954, fundaram uma companhia de distribuição de jornais que, mais tarde, daria lugar à fábrica de álbuns de figurinhas. O grupo é, desde então, líder mundial no setor. Com sede italiana e filiais em mais de uma centena de países, a Panini fatura anualmente cerca de 650 milhões de euros (1,7 bilhão de reais).

O Blog do Curioso conversou com o colecionador de álbuns de figurinhas Fernando Camargo sobre a história dos álbuns de futebol. Camargo conta que o tema sempre esteve presente nas coleções de figurinhas, apesar de o primeiro álbum oficial de futebol ter chegado ao Brasil apenas em 1950: “Na primeira metade do século XX, os álbuns misturavam diversos assuntos, entre eles o futebol”. Demorou mais um pouco, no entanto, para que as coleções de figurinhas de futebol virassem febre nacional. “Tirando o tema Copa do Mundo, que entrou no mercado dos álbuns de figurinhas em 1950, até a década de 1980 não era comum o lançamento de álbuns específicos sobre futebol”, conta o colecionador. Com o lançamento, pela Editora Abril, do álbum oficial do Campeonato Brasileiro de 1989, que marcou o início da tradição dos álbuns de futebol, Fernando Camargo retomou a coleção que tinha iniciado quando era garoto, nos anos 70. Hoje, seu acervo de álbuns de figurinhas já ultrapassa os 3.000 álbuns, 80% deles completos. Apesar de considerar caríssimos os preços cobrados hoje em dia, Fernando já comprou – e completou! – o álbum da Copa das Confederações 2013. Como isso é possível, se as figurinhas acabaram de chegar nas bancas? “Desde que eu me profissionalizei como colecionador, já encomendo os álbuns completos”, revela Fernando. “Eu não troco mais figurinhas, troco álbuns”.

Confira alguns álbuns históricos de futebol citados por Fernando Camargo:

Balas Futebol – Craques do Campeonato Mundial de Futebol 1950
Balas Futebol - Craques do Campeonato Mundial de Futebol 1950
O primeiro álbum oficial de figurinhas de futebol a circular no país foi o da Copa de 1950, realizada no Brasil. O produto era patrocinado pelas Balas Futebol, mais conhecidas pelos álbuns de figurinhas do que exatamente pelo sabor açucarado dos confeitos. Um dado curioso: o álbum foi lançado meses depois do fim da Copa de 50, quando a Seleção Brasileira protagonizou a maior derrota de sua história, perdendo o título em casa para o Uruguai. Isso não impediu que o álbum virasse febre entre a criançada, alavancando as vendas da indústria de doces Americana, que fabricava as balas. O campeão Uruguai estampava a segunda página, depois da seleção canarinho.

Chapinhas de Ouro
Chapinhas de Ouro
A Editora Dimensão Cultural inovou ao lançar um álbum de figurinhas metálicas. A garotada, no entanto, não se contentou em usar as chapinhas apenas para completar o álbum. A geração de crianças do fim da década de 70 costumava exibir bicicletas, pastas e até peças de roupas cheias de “chapinhas de ouro” grudadas. Por sinal, era um tanto inconveniente completar o álbum de figurinhas. Como as chapinhas eram muito mais pesadas do que figurinhas de papel, o álbum cheio pesava mais do que sua estrutura podia suportar. Era comum, portanto, que álbuns completos tivessem pelo menos algumas páginas soltas.

Ping Pong Copa 82
PING PONG 1982
O álbum da Copa do Mundo de 1982 foi patrocinado pelos chicletes Ping Pong. Dentro da embalagem da goma de mascar, vinha uma das 300 estampas de figurinhas confeccionadas pela marca. Para completar o álbum, a garotada tinha que mascar muuuuuito chiclete. Foram vendidos cerca de 600 mil álbuns em um período de seis meses. Além da indústria de doces, os dentistas brasileiros também devem ter lucrado com a mania juvenil. O álbum virou item de colecionador: o preço da relíquia hoje atinge os 500 reais.

Campeonato Brasileiro 1989
ÁLBUM Campeonato Brasileiro 1989
O Campeonato Brasileiro de 1989 não foi o primeiro a ilustrar um álbum de figurinhas. Antes dele, a Editora Abril já havia lançado um álbum do torneio de 1977, que englobava 62 times brasileiros. A experiência só se repetiu uma década depois, quando o mesmo grupo colocou nas bancas o álbum da Copa União de 1987, torneio que correspondeu ao Campeonato Brasileiro naquele ano. Foi só em 1989, no entanto, que a Abril, já em parceria com a Panini, iniciou a tradição anual da confecção de álbuns de figurinhas do Campeonato Brasileiro. Em 1994, a sociedade entre os dois grupos foi rompida, e a Panini assumiu de vez a produção.

(Imagens cedidas por Fernando Camargo / www.nosthalgia.com.br)