ZICO

“Obrigado. Se eu tivesse que escrever nesta carta de despedida tudo o que foi o futebol para mim, resumiria com uma palavra de agradecimento. E não poderia ser de outra forma. Foi nesse meio que conheci os melhores amigos, onde vivi as grandes alegrias e as piores decepções. Tudo isso, agora, vai virando parte de uma saborosa lembrança, eu sei, mas o momento de parar era algo que amadurecia a cada ano. Desde a segunda vez que operei o joelho, logo depois da Copa do México, em 1986, passei a pensar mais seriamente no assunto. De lá para cá, tentei me acostumar com a chegada desse dia. Sem mágoas e certo de ter vivido muito mais coisas boas do que ruins dentro do futebol.

Uma coisa, porém, era fundamental. Jamais iria parar por causa de uma contusão. Eu sempre guardei comigo o desejo de abandonar a carreira em forma, com a certeza de que, se quisesse, poderia continuar por mais tempo. E este sonho eu realizei. Na verdade, olhando bem para o que passou, todos os meus desejos foram realizados. Quando entrei para o Flamengo, eu só queria vestir a camisa titular que havia sido do meu ídolo Dida. Consegui. Daí, meu sonho era ser campeão. Fui. Também cheguei à Seleção. Pouca coisa ficou em débito. Disputar mais uma Copa do Mundo, por exemplo, é uma delas. E, é claro, se eu pudesse ter feito só mais um golzinho na minha carreira, eu empataria aquele jogo Brasil x Itália, na Copa de 1982.

Felizmente, o carinho de torcedores de todo o Brasil, o reconhecimento como um dos maiores jogadores de futebol são coisas que cobrem estes deslizes. E, de certa forma, sempre estarei ligado ao futebol. Acho melhor corrigir. Em vez de uma carta de despedida, esta é uma carta de apresentação. De uma pessoa que nasceu para viver dentro do futebol. Obrigado.”

Fonte: Placar