Uma operação da Polícia Federal na manhã de ontem prendeu Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro desde 1995 e também presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Ele e o braço-direito Leonardo Gryner, ex-executivo da Rede Globo e diretor de operações na Rio-2016, são acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Operação”Unfair Play” (“Jogo Sujo”, em tradução livre), desdobramento da Operação Lava-Jato. Nuzman é acusado ainda de ter comprado votos de membros do Comitê Olímpico Internacioanl em 2009 para a escola do Rio como sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016.
A facilidade com a qual o Ministério Público e a Polícia Federal conseguiram decretar a prisão do homem forte do esporte brasileiro contrasta com a situação de Marco Polo Del Nero. Eleito em 2015 presidente da Confederação Brasileira de Futebol para um mandato de quatro anos, ele foi indiciado em dezembro do mesmo ano pelo FBI pelos crimes de lavagem de dinheiro, conspiração e fraude em contratos envolvendo a CBF e alguns de seus principais torneios. Mesmo sob denúncias de tal gravidade, Del Nero não só está solto como segue presidente da CBF. Esta semana, ele foi de helicóptero até a Granja Comary, em Teresópolis, para se encontrar com jogadores e comissão técnica da Seleção Brasileira.
O jornalista Rodrigo Mattos, que atua na cobertura dos bastidores do esporte brasileiro e é autor do livro “Ladrões de Bola – 25 Anos de Corrupção no Futebol”, explica as diferenças entre os dois casos: “A principal questão talvez seja que o Nuzman lidou com muito dinheiro público no COB e na Rio-2016. O Del Nero lida com dinheiro privado na CBF e, no Brasil, não existe crime para apropriação de dinheiro privado.” A defesa de Nuzman se bate justamente nesse ponto: se ele cometeu alguma irregularidade teria sido corrupção privada. A investigação mostra que Nuzman foi o elo da propina entre o grupo do ex-governador Sérgio Cabral e membros do COI.
A Câmara dos Deputados insaturou uma CPI para investigar a conduta de Del Nero à frente da CBF, mas por enquanto não avançou na investigação. Em março, a Fifa, que poderia ao menos afastar Marco Polo do comando do futebol brasileiro, concluiu não ter provas suficientes para tomar alguma medida por meio de seu conselho de ética. Quanto à investigação do FBI, Del Nero pode ser preso em território norte-americano ou em qualquer outro país que tenha acordo de extradição com os Estados Unidos. Por isso, desde o ano passado ele não representa a Confederação Brasileira de Futebol em nenhum evento realizado fora do país. O antecessor de Del Nero, José Maria Marin, que era presidente da CBF na época da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, cumpre prisão domiciliar em Nova York