Era sexta-feira, 11 de agosto de 1978, um dia depois de o Guarani ter derrotado o Palmeiras na primeira partida final do Campeonato Brasileiro. Antonio Euryco, Walter Abrahão e Eli Coimbra foram até a sala do diretor artístico da TV Tupi, Toninho Seabra, no prédio do bairro do Sumaré, em São Paulo.  A reunião foi marcada para comunicar o acordo feito com a Rede Globo para o segundo jogo da decisão, em Campinas (SP), que ocorreria no domingo. Naquela época, o canal da família Marinho ainda não possuía o aparato atual. A TV Tupi levaria o caminhão para gerar as imagens da partida e, em troca, poderia exibir o videoteipe à noite – a Globo transmitiria ao vivo. “Eu tinha que inventar algo”, lembra Antonio Euryco. “Pedi três câmeras portáteis e livre acesso à ilha de edição”.

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Euryco nos tempos de TV Tupi

A equipe da TV Tupi partiu para o palco da decisão no sábado, levando o número pedido de câmeras. Quando o sol ainda não havia raiado no domingo, as câmeras já estavam ligadas na Praça Carlos Gomes, no coração de Campinas, para ver a movimentação dos bugrinos. “Chegou um grupo de torcedores e vestiu a camisa do Guarani na estátua do maestro”, lembra Euryco. “Só nós tínhamos essa imagem”. A ideia era mostrar a partida de uma maneira diferente. Foram feitas tomadas de cima dos prédios vizinhos ao estádio Brinco de Ouro da Princesa, imagens exclusivas da preleção feita pelo treinador bugrino Carlos Alberto Silva – amigão de Euryco – e filmagens inéditas atrás das balizas. “Tínhamos o gol do Careca em três ângulos diferentes”, lembra Euryco. “Isso não existia na época, era só a câmera de cima”. Em vez do videoteipe à noite, a Tupi colocou no ar os 90 minutos de jogo mostrados de ângulos diferentes –  somente 8 minutos e 48 segundos eram de ângulos tradicionais, com narração do locutor Walter Abrahão. O programa ganhou o nome de “Imagens que Você Não Viu”. O sucesso foi tanto que o programa foi repetido por quatro vezes durante a semana. O “Imagens que Você Não Viu” durou apenas seis meses. Terminou por decisão de Jota Silvestre, diretor da área artística. “O programa que substituiu tinha um patrocínio político muito grande”, revela Euryco.

Mesmo ficando tão pouco tempo no ar, o “Imagens que Você Não Viu” foi o programa que mais me marcou. Era aquilo o que eu queria fazer no jornalismo esportivo, decidi. Quando fui trabalhar na revista Placar, alguns anos depois, sugeri uma seção chamada “O que Ninguém Viu”. Era para ser a versão impressa do programa que deixou saudade. Escrevíamos pequenas notas com os bastidores dos jogos. Elas ocupavam uma página logo depois da cobertura dos jogos de final de semana. Para minha alegria, na semana passada, encontrei Antônio Euryco.
Hoje, aos 58 anos, ele se dedica ao jornalismo turístico. Desde 2012, é diretor da revista Travel3. Já visitou 71 países. “Só falta conhecer o Egito”, diz. Morador do Itaim-Bibi, ainda cultiva a barba, hoje grisalha, e é pai de Élton Flávio e avô de Matheus e Sofia.

A carreira de jornalista de Antonio Euryco começou aos 13 anos, na Rádio Municipalista, de Botucatu (SP). Aos 19 anos, mudou-se para São Paulo, carregando o sonho de trabalhar na rádio Tupi. Com boas referências interioranas, conseguiu o emprego. Seu primeiro trabalho foi escutar uma corrida de cavalos e depois anunciar o vencedor. A transição da rádio para a TV Tupi foi facilitada por estarem no mesmo prédio.

Além do “Imagens que Você Não Viu”, apresentou o famoso “Redação Esportes”, que ia ao ar no horário de almoço. Logo depois do fim do programa que o consagrou, Euryco trocou a Tupi pela Gazeta, onde foi diretor de esportes por seis anos. Ao sair da televisão, trabalhou como assessor da Secretaria de Esporte e Turismo de São Paulo, onde se encantou com a área turística.

Sobre o jornalismo esportivo atual, ele reclama que os programas estão muito repetitivos. “Alguns passam o mesmo lance mil vezes”, lamenta. “Poderiam mostrar os jogos de outra maneira para atingir também o torcedor mais consciente, aquele que gosta do espetáculo além do resultado”.  O único pesar é não ter guardado nenhuma de suas reportagens do “Imagens que Você Não Viu”. Não há qualquer registro nem mesmo na internet. Elas só ficaram guardadas na memória de fãs como eu.

(com reportagem de Lucas Strabko)