O brasileiro André Nemésio, doutor em Ecologia e professor da Universidade Federal de Uberlândia (MG), acaba de descobrir uma nova espécie de abelha. Torcedor fanático do Atlético Mineiro, Nemésio não hesitou: batizou o inseto de Eulaema quadragintanovem. O segundo nome da espécie corresponde ao número “49” escrito de forma extensa em latim. É uma homenagem direta a Ronaldinho Gaúcho, o camisa 49 do time alvinegro que briga pelo título do Campeonato Brasileiro deste ano. Além do motivo futebolístico, o nome inusitado é uma forma de chamar a atenção da mídia ao inseto que, recém-descoberto, já é classificado como em risco de extinção. Os únicos dois exemplares da espécie foram encontrados na Mata Atlântica do Ceará.
Se Bob Marley ia gostar disso ou não, ninguém nunca vai saber. Mas o fato é que o biólogo Paul Sikkel, fã da lenda do reggae, decidiu batizar uma nova espécie de crustáceo em sua homenagem. Sua justificativa foi que o bichinho é tão autenticamente caribenho quanto o próprio Marley. Gnatia marleyi, um parasita de peixes, é a primeira espécie a ser descoberta no Caribe em 20 anos.
Em janeiro de 2012, uma rara espécie de mosca australiana foi batizada de Scaptia beyonceae. O nome é uma homenagem à cantora Beyoncé que nasceu em 1981, mesmo ano em que o inseto foi encontrado. Além disso, o abdómen formado por uma densa penugem de cor dourada fez lembrar a roupa usada pela diva do pop no videoclipe “Bootylicious” – ainda com o grupo Destiny’s Child. O nome é criativo e chamou a atenção de muita gente, mas que critérios são levados em conta para batizar seres vivos?
No início do século 18, o pesquisador Carl Linnaeus criou o sistema de classificação de espécies que é usado até hoje. Para que os nomes não precisassem ser traduzidos em cada língua, padronizou-se registrá-los em latim, uma língua ao mesmo tempo clássica e em processo de desuso. Mas quem escolhe o nome de cada bicho? A regra para batizar uma espécie é a seguinte: quem descobre um animal ou vegetal novo na ciência tem o direito de escolher seu nome.
Na maioria das vezes, isso é feito com seriedade, responsabilidade e cuidado, mas para toda regra existem exceções.
O cientista e ativista político Rousseau H. Flower, que desprezava comunistas, descobriu uma nova espécie de verme e batizou-a de Khruschevia Ridicula, uma referência ao líder soviético Nikita Khrushchev. Um fã da banda de punk rock dos anos 70 Sex Pistols descobriu dois insetos extintos, que foram chamados de Sid viciousi e Johnny rotteni, em tributo aos integrantes Sid Vicious e Johnny Rotten.
Já o pesquisador de insetos e galanteador G. W. Kirkaldy aproveitou para celebrar suas conquistas românticas. Ele descobriu uma série de insetos e batizou-os com nomes que terminam com “chisme”, um sufixo grego que se pronuncia como a expressão inglesa “kiss me”, que significa “beije-me”. Os bichinhos então se chamam Polychisme (beije-me, Poly), Marichisme (beije-me, Mari), Dollichisme (beije-me, Dolli) e por aí vai.
Em 2005, Quentin Wheeler, um pesquisador de besouros, nomeou um grupo de insetos que vivem no lodo e se alimentam de bolor em homenagem a George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos, e dois membros de seu gabinete (Donald Rumsfeld e Dick Cheney): Agathidium bushi, Agathidium rumsfeldi e Agathidium cheneyi. Alguns de seus colegas questionaram a atitude, alegando que não se tratava de um elogio. Wheeler, que sempre foi simpatizante do Partido Republicano, provou suas boas intenções batizando uma quarta espécie com o nome de sua esposa. Mais tarde, fez mais uma gracinha: chamou de Agathidium vaderi (uma referência ao vilão Darth Vader, da saga “Star Wars”) um besouro todo preto.
Hollywood não fica de fora das bizarrices. Um inseto da família dos carabídeos foi batizado de Agra schwarzeneggeri. Isso porque as pernas musculosas do bichinho podem ser comparadas ao físico de Arnold Schwarzenegger, protagonista de “O Exterminador do Futuro”. Em 2003, foi a vez de Steven Spielberg receber uma homenagem: o diretor de “Parque dos Dinossauros” foi escolhido para nomear uma espécie de pterossauro (Coloborhynchus spielbergi). O ator Harrison Ford, por estar envolvido em organizações de conservação de espécies em extinção, já recebeu duas homenagens: ele batiza uma anta (Pheidole harrisonfordi) e uma aranha (Calponia harrisonfordi).
Não é curioso? Mais histórias como estas estão descritas no livro “The Secret Life of the Natural History Museum”, do paleontólogo e escritor britânico Richard Fortey, ainda não publicado no Brasil.