O nome vem dos varais improvisados com cordinhas para pendurar os folhetos com versos que relatam acontecimentos dramáticos do cotidiano, da história política, ou reproduzem lendas e histórias. Os folhetos ou livrinhos de cordel são impressos em papel barato e ilustrados principalmente com xilogravuras na capa. Os próprios artistas costumavam vendê-los nas feiras e ruas.
O paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918) é considerado o primeiro escritor brasileiro de cordel. Tanto que o Dia do Cordelista é comemorado em 19 de novembro, data de seu nascimento. Em 1909, Leandro publicou seus primeiros cordéis na seção “Lyra Popular”, no jornal “O Rebate”, de Juazeiro do Norte-CE. Três anos depois de sua morte, em 1921, o também cordelista João Martins de Athayde (1880-1959) pagou 600 mil réis pelos direitos de toda a obra do poeta. A admiração por Leandro era tão grande que Athayde escreveu “A pranteada morte do grande poeta Leandro Gomes de Barros” em 1918. Só que, depois disso, Athayde seria acusado de publicar poemas de Leandro como sendo de sua autoria.
“O violino do diabo ou o valor da honestidade”, de 1938, foi o primeiro cordel escrito por uma mulher. Só que a autora Maria das Neves Batista Pimentel, filha do editor Francisco Chagas Batista, ficou com medo de não vender nada e, por isso, utilizou o apelido do marido como pseudônimo: Altino Alagoano. Apenas em 1972, uma mulher assinaria seu próprio nome num cordel: Vivência Macedo Maia. Depois dela vieram outras cordelistas importantes, embora num número bem reduzido ainda, como Maria Lindalva Gomes, Salete Maria, Maria Godelivie, Maria do Rosário Lustosa da Cruz.
O professor francês Raymond Cantel (1914-1986), Doutor em Letras Portuguesas, começou a se interessar pela literatura popular produzida no Brasil quando pesquisava a obra o padre Antônio Vieira nos anos 1950 e 1960. Reuniu cerca de 4 200 folhetos em viagens e doações que hoje estão guardados no Centre de Recherches Latino-Américaines, em Paris. É uma das mais valiosas coleções do gênero. A ele é atribuída a criação do nome “literatura de cordel”.
Cego Aderaldo foi o poeta cearense que descobriu seu talento para o cordel depois de perder a visão em um acidente e não conseguir mais encontrar emprego. Existe um monumento em Quixadá-CE em que ele está com sua inseparável rabeca.
Antes de viver de sua poesia em cordel, Apolônio Alves dos Santos foi pedreiro e participou da construção de Brasília. Escreveu 120 folhetos. O mais famoso deles é “Discussão do Carioca com o Pau-de-Arara”.
De vez em quando nos ligam
Estranhos, não sei pra que,
De forma mal educada
Que nem parece um buquê.
– Alô, quem está falando?
Como resposta vou dando:
– No momento, só você!
Esse texto está no cordel “Pergunta Idiota, Tolerância Zero!”, do baiano Varneci Nascimento, que fala de uma figura recorrente da literatura de cordel. Ele foi batizado com o nome de Joaquim dos Santos Rodrigues (1927-2014), mas ganhou um apelido de “Seu Lunga” por causa de sua falta de paciência com as perguntas que lhe faziam. Dono de uma loja de sucata em Juazeiro do Norte-CE, ele gostava também de fazer repentes. Em entrevistas, Seu Lunga dizia que as histórias folclóricas atribuídas a ele eram todas mentirosas.
A sede da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, fundada em 1988, fica no Rio de Janeiro.
A novela “Velho Chico”, da Rede Globo (2016) tinha a dupla Egídio e Avelino, repentistas da fictícia Grotas de São Francisco. Eles faziam versos de cordel, na verdade escritos pelo poeta Marco Haurélio.
Segundo o “Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel”, conga é o nome se dá ao contrato em que o editor paga os direitos autorais ao cordelista sob a forma de cordéis para a venda. O vendedor dos livrinhos é chamado de folheteiro. Cordelteca é o local em que se guardam cordéis para serem lidos e consultados.
“E se o caminho dos retirantes nordestinos até São Paulo se transformasse na estrada de tijolinhos amarelos?” Em 2019, o jovem e premiado dramaturgo Vítor Rocha adaptou para o teatro em forma de cordel “O Mágico de Oz”, do americano L. Frank Baum, de 1901. O musical “O Mágico di Ó”, escrito em parceria com a atriz Luiza Porto, tem como protagonistas Doroteia, uma menina sem imaginação, e Osvaldo, um vendedor de folhetos de cordel, esperançosos por encontrar na cidade grande uma vida melhor.
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Segundo registros a literatura de Cordel chegou ao Brasil trazido por cordelistas portugueses que expunham seus livros na Rua Áurea, também conhecida por rua do Ouro em Lisboa. Como o governo resolveu cobrar deles alto imposto resolveram vir para o Brasil trazendo seu livros e aqui espalharam a sua arte.