A Primeira Guerra Mundial, de 28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918, foi o primeiro conflito que se estendeu por todo o planeta – até o Brasil participou. Quando ela acabou, quatro impérios tinham sumido: o turco, o austro-húngaro, o russo e o alemão. Foi um conflito que colocou em campo os valores antigos para enfrentar a tecnologia mais moderna. Ainda se usavam cavalos, lanças e espadas nas batalhas, enfrentando aviões metralhadoras e os recém inventados tanques de guerra. O uso de gases venenosos espalhou a morte entre soldados, civis, animais. Na Batalha do Somme, a maior da guerra, que durou quase cinco meses, os britânicos tiveram 57.000 mortos… no primeiro dia! Ao todo foram cerca de 22 milhões de mortos em quatro anos.
Pois, no meio desse cenário do inferno, ainda em dezembro de 1914, no primeiro ano da guerra, aconteceu uma coisa… inusitada, contada inicialmente num livro do capitão britânico Bruce Bairnsfather. Na noite de Natal, por volta das 22h, no um sentinela inglês ouviu os boches (como os Aliados se referiam aos alemães) cantando “Noite Feliz” em suas trincheiras. Ele acordou alguns companheiros e decidiram que aquilo não podia ficar assim; então cantaram “First Noel”. Os alemães contra-atacaram com “Tanenbaum”. E os britânicos, então, apelaram: “Come all Ye Faithful”. E os alemães começaram a cantar a mesma canção, mas com a letra em latim, “Adeste Fidelis”.
Alguns deles, de ambos os lados, começaram a caminhar pela “terra de ninguém”, que é como se chamava o espaço entre as trincheiras. E trocaram cumprimentos de Feliz Natal. Trocaram tabaco e vinho. Um cachecol por luvas. Em troca de cigarros, os ingleses cortaram o cabelo dos alemães.
Amanheceu e a festa continuava. Alguém apareceu com uma bola meio murcha e – eles jogaram futebol! Deu Alemanha por 3 x 2. Depois soube-se que algo parecido aconteceu em outros pontos. Ninguém combinou nada, só aconteceu. Não foi nada entre governos, mas entre pessoas. Os comandantes dos dois lados receberam, no mínimo, repreensões oficiais. A chamada Trégua de Natal durou pouco. Uns dias depois já estavam se matando novamente.
Mas, houve um momento em que foi possível viverem como seres melhores. Sempre é possível. Acredite.