1. A princípio, diáconos e cardeais podiam escolher o sucessor ao trono de São Pedro, em uma seleção feita sob as vistas do povo. Após a eletiva do Papa Gregório X, que durou quase três anos, estabeleceu-se que o processo se restringiria apenas aos cardeais e seria feito a portas fechadas (conclave). Em 1503, o Papa Júlio II sancionou algumas normas que driblavam a compra de votos e outros privilégios na eleição do Papa e, em 1904, se determinou que não haveria possibilidade de vetos por parte de nenhuma autoridade à escolha do novo pontífice.
2. O cronograma de atividades que sucedem a morte ou renúncia do Papa foi estabelecido por João Paulo II em 2 de fevereiro de 1996. Na ocasião, o sumo-sacerdote publicou a Constituição Apostólica chamada Universi Dominis Gregis, que reformulava o sistema de eleição do novo pontífice.
3. O Universi Dominis Gregis é um documento de 27 páginas, em espaço simples, com 92 artigos e 23 notas bibliográficas. Ele determina que, uma vez oficializada a morte do Papa, seja estabelecido o novemdiales (período de nove dias de luto). A escolha da data do sepultamento é fixada na primeira reunião da Congregação de Purpurados, composta pelos cardeais e presidida pelo camerlengo. Ela deve ocorrer entre o quarto e o sexto dia depois da morte. Também neste encontro é feita a leitura do testamento do papa, caso ele o tenha redigido.
4. O Papa só é considerado “oficialmente” morto depois da realização de um ritual que testa seu “último sopro da vida”. Nos primeiros séculos, ele se resumia a aproximar uma vela dos lábios do pontífice. O procedimento era repetido até que a chama permanecesse imóvel.
5. Com o passar dos anos, porém, este método foi substituído por uma cerimônia presidida pelo camerlengo (administrador interino da igreja). Primeiro, o religioso se aproxima do corpo do sumo-pontífice e o chama três vezes por seu nome de batismo. Não havendo reação, bate em sua testa com um martelo de prata e cabo de marfim. Por fim, pronuncia a frase: “Vere Papa mortuus est” (O Papa está morto). O mesmo martelo é usado para destruir o piscatório ou anel do pescador, símbolo do poder do sumo-sacerdote. Ele é removido de seu dedo pelo camerlengo, enquanto o secretário-chanceler da câmara apostólica finaliza a certidão de óbito. Após este procedimento, os sinos de São Pedro tocam, anunciando ao mundo a morte do Papa.
6. Seu cadáver é, então, embalsamado (suas vísceras são retiradas e depositadas em urnas que ficam na cripta subterrânea da Igreja de São Vicente, em Roma) e vestido com um traje composto de bata branca, pano branco sobre os ombros, sopreliz de renda, estola, túnica vermelha e dourada, casula e mitra (espécie de chapéu) episcopal. Quando o corpo deixa o quarto, são retirados todos os pertences pessoais do pontífice. As portas são seladas com lacre de cera, que será violado apenas pelo novo Papa. Outro procedimento que fazia parte do ritual de oficialização da morte do sacerdote era o ato de fechar os portões de bronze da Basílica de São Pedro. Mas ele caiu em desuso.
7. Antes de ser enterrado, o corpo do pontífice fica exposto na basílica de São Pedro para ser visitado pelos fiéis. No dia do sepultamento, o decano da igreja preside uma missa de corpo presente. Os cardeais que participam dela entram no local por ordem de idade (dos mais velhos para os mais novos). Por fim, tem início o conclave, reunião em que os cardeais elegem o Papa. O conclave não pode ser convocado nem antes de 15 dias nem após 20 dias da morte ou renúncia do Papa.
8. Os cardeais com direito ao voto (todos os que têm menos de 80 anos) dirigem-se às suas cadeiras na capela Sistina, dentro do Vaticano, e são simbolicamente trancados ali. O mestre-de-cerimônias distribui as cédulas. Na parte de cima, elas têm a seguinte inscrição: “Eligo in summum ponti-ficem” (Escolho para sumo pontífice). A parte de baixo traz o espaço em branco, onde os cardeais colocam o nome de seu preferido. Todos podem votar em todos.
9. Um por um, segurando a cédula de modo que possa ser vista pelos demais, os cardeais dirigem-se até o altar, onde estão os apuradores e sobre o qual se situa o cálice coberto por um prato. Ajoelham-se, rezam por um curto tempo, erguem-se e pronunciam em voz alta um juramento idealizado pelo papa Paulo VI: “Chamo por testemunha a Cristo, que saberá que meu voto está sendo dado àquele que, diante de Deus, julgo que deve ser o eleito”.
10. As cédulas e as listas de controle são colocadas no forno, nos fundos da capela, e a fumaça escapa pela chaminé. É sinal de que o papa ainda não foi escolhido. A fumaça branca anuncia o final da eleição. Se a votação não for conclusiva (o papa eleito deve ter 50% dos votos +1), é adicionado um material químico ao forno que faz a fumaça enegrecer.