A história da Seven Boys começou em 1937, quando dois imigrantes japoneses, os irmãos Kiyoteru e Jinko Yonamine, desembarcaram no Porto de Santos, no litoral de São Paulo. Ele vieram de Okinawa, uma ilha ao sul do Japão, a bordo do La Plata Maru. Há registro da chegada dos dois na Hospedaria dos Imigrantes (hoje Museu da Imigração, no bairro da Mooca, em São Paulo).
A família veio para trabalhar
na lavoura. O pai morreu em 1942 e Kiyoteru assumiu o comando da casa. Acordava todos os dias às 3h20 e começava o trabalho às 4h20 (hábito que manteria mesmo tempos depois com seus executivos). Em 1949, eles se mudaram para Santos porque a mãe precisava de cuidados hospitalares.
Depois de um período trabalhando como funcionário de uma fábrica de doces em Santos, onde aprendeu o ofício da panificação, Kiyoteru se mudou para São Paulo, onde passou a trabalhar em padarias e confeitarias da cidade, como a Fornecebar e a Turteli. Em
1952, aos 25 anos, ele começou a vender doces e pães de porta a porta na Vila Ré, Zona Leste da cidade, com a ajuda da mulher, Yone (tinham se casado em 1949), e do irmão, Jinko, responsável pelas entregas. A pequena empresa tinha um triciclo, com uma caixa de madeira grande na frente. Foi assim que nasceu a Seven Boys (há informações que a empresa surgiu em 1954). A bisnaguinha sem
pre foi o produto de maior sucesso da fábrica. Kiyoteru tinha o hábito de criar as próprias máquinas da empresa, com a ajuda de colaboradores.
Sobre o nome Seven Boy
s, a empresa nunca fez muita questão de explicar sua origem. O número 7 é considerado cabalístico no Japão. Faz também uma referência às sete virtudes de um samurai. “Boys”, no caso, seria uma referência aos dois irmãos. As palavras em inglês começavam a entrar com força no vocabulário dos jovens brasileiros.
Jinko e Kiyoteru se naturalizaram brasileiros e resolveram adotar nomes em português quando os negócios já estavam em plena expansão. Jinko passou a ser chamado de Paulo e Kiyoteru, de Franklin.
Em 1985, os irmãos decidiram dividir os negócios. Jinko ficou com a marca Seven Boys e Kiyoteru criou a empresa Lua Nova e adotou o nome fantasia Panco (“farinha” em japonês). Por um acordo entre eles, a Seven Boys não poderia atuar em mercados do Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), do Sul (Paraná) e parte do Mato Grosso do Sul, que passariam a ser controladas pela Panco. O que se conta internamente é que tudo ia bem até que a Seven Boys rompeu a cláusula em 2002, o que colocou as famílias em guerra. Há uma versão que diz que não houve rompimento do contrato, mas que ele apenas venceu. O que se diz também é que, a partir daí, as duas partes da família entraram em guerra.
A Seven Boys foi vendida para a Wickbold em 2015. Mas, se a Panco surgiu em 1985, por que a empresa fez uma grande festa para comemorar seus 70 anos em 2022? A empresa usa como referência o ano de 1952, quando Kiyoteru começou a atuar no ramo, mas não explica isso em nenhum momento no site ou nas redes sociais.
Kyoteru nasceu em 5 de junho de 1927 e faleceu em 28 de agosto de 2018, aos 91 anos. Yone, paulista de Araçatuba (SP), morreu em 18 de agosto de 2022, aos 92 anos. Os dois haviam perdido dois filhos, Kiyoiti (acidente de carro, em 2002) e Sumico (também chamada de Eunice, vítima de câncer). Quem está no comando da Panco é a caçula, Akiko Tinen, e os oito netos do casal – quatro filhos de Kiyoiti, duas filhas de Sumico e duas de Akiko.
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