O artista Agnaldo Brito tem uma vida agitada. Ele é um dos principais parceiros do renomado muralista Eduardo Kobra e passa a maior parte do tempo em aeroportos e hotéis, viajando para fazer e expor os trabalhos de sua equipe.
Nos raros períodos em que consegue ficar em casa, Agnaldo não abandona a arte: desde o ano passado, ele se dedica a um curioso projeto pessoal: pintar fotos de mulheres que foram capa da revista Playboy em capacetes de motociclista.
O hobby – ele faz questão de frisar que não é uma atividade com fins comerciais ou de exposição pública – tem tudo a ver com a infância e a adolescência do artista. “Meu pai tinha uma loja de motos, então eu sempre adorei esse universo”, conta. “E ele também colecionava as revistas Playboy. Foi olhando a revista que eu despertei para a arte. Comecei a desenhar pensando que queria desenhar a anatomia do corpo feminino”.
A carreira de artista começou quando ele tinha 18 anos. Mas só há pouco mais de um ano (hoje ele tem 36), surgiu a ideia de pintar as protagonistas das capas nos capacetes. Ele selecionou 100 dentre as mais de 500 edições que possui entre brasileiras e estrangeiras. Já tem 20 capacetes prontos:
“Se eu pudesse me dedicar somente a esse trabalho, levaria uma semana por capacete, e mais alguns dias para secar e dar o verniz. Com o meu trabalho ao lado do Kobra, ultimamente levo mais ou menos um mês para fazer cada um”, conta.
Por enquanto, o capacete preferido de Kobra é o que reproduz uma das 14 edições da Playboy norte-americana com a atriz Pamella Anderson.
As capas brasileiras da década de 1980, por sua vez, sobressaem pela memória afetiva: a da apresentadora Xuxa Meneghel, em dezembro de 1982, e da atriz Cláudia Ohana, em fevereiro de 1985, são as que vêm à mente logo de cara. Apesar de entrarem na lista das 100, outras deixaram a desejar quando foram parar nos capacetes.
É o caso da edição brasileira de dezembro de 1987, com a então paquita do próprio Xou da Xuxa, Luciana Vendramini: “Quando não gosto, jogo fora e faço de novo”, garante.
O trabalho hiper-realista é cuidadoso, mas simples de definir: “Basicamente, transformo o capacete em uma tela como qualquer outra”, resume Agnaldo. Primeiro, ele decide se usará um fundo branco ou se reproduzirá o fundo da capa: “De vez em quando gosto de brincar e alterar algumas coisas”, admite. Depois, é feito o desenho, à mão ou projetado em um computador.
Por fim, com um pincel de pintura automotiva, o artista faz toda a pintura e deixa de dois a três dias secando. A etapa final é dar uma mão de verniz para evitar arranhões.
Apesar da paixão por motos, ele não sai às ruas com as obras. Elas ficam guardadas e fazem companhia para capacetes que reproduzem carros de Fórmula 1, motos e outros artistas – no total, são cerca de 150. Vender qualquer um deles está praticamente fora de cogitação: “Se fosse para um colecionador, em um caso muito específico, talvez eu venderia. Caso contrário, não”. Por isso mesmo, ele evita falar em um preço.