Um dos podcasts mais populares do planeta, o Caipirinha Appreciation Society (CAS), tem conteúdo 100% brasileiro. Podcast é um arquivo digital, geralmente no formato mp3, publicado na internet. É como se fosse um episódio de um programa de rádio disponível para ser ouvido ou baixado online.
O curioso é que, diferentemente do que seria esperado de um podcast famoso de MPB, na playlist do CAS não entram Luan Santana, Ivete Sangalo, NX Zero, Marisa Monte ou Caetano Veloso. Em vez disso, são artistas como Dois do Samba, Filarmônica de Pasárgada, Metá Metá e Aíla que rodam o mundo representando o Brasil. Nunca ouviu falar? Não se preocupe: a maioria dos brasileiros também não. O lema do Caipirinha Appreciation Society é justamente fugir dos clichês nacionais, levando para países do exterior música brasileira de qualidade muitas vezes desconhecida pelos próprios brasileiros. Conheça alguns exemplos:
O podcast foi criado em 2004 por Mdc Suingue (codinome do jornalista Mickey del Cueto) como um projeto ligado à rádio inglesa Life FM. Nessa época, Mickey morava por lá, e a oportunidade surgiu depois que ele começou a dar festas temáticas de música brasileira. Em 2006, de volta ao Rio de Janeiro, Mickey se juntou à colega Kika Serra, e a dupla alavancou o projeto londrino, mesmo que à distância. Hoje, os programas são gravados no Rio de Janeiro e enviados à Universidade de Londres, que os transmite na rádio inglesa SOAS. Depois disso, o podcast é liberado para divulgação na internet, ficando disponível para download por usuários do mundo todo.
Feito originalmente para o público londrino, o CAS até hoje tem uma maioria de ouvintes estrangeiros. A porcentagem de brasileiros que acompanham o projeto vem crescendo: hoje alcança os 25%. O nome Caipirinha Appreciation Society, além de atrair a atenção dos gringos, é uma referência a outra arte de Mdc Suingue: a de preparar caipirinhas. Nas festas que promovia na época em que morava em Londres, ele gostava de provar que a caipirinha é muito mais do que suco de limão com cachaça. Mickey e Kika também marcam presença em um albergue recentemente aberto no Rio de Janeiro. Em funcionamento há apenas seis meses, o Caipi Hostel já é conhecido por estimular a integração de estrangeiros com brasileiros. Toda sexta-feira, Mdc Suingue comanda as picapes do “Caipi Hour”, um happy hour regado a música brasileira (que não toca na rádio) e a caipirinhas.
O Blog do Curioso foi até o Caipi Hostel, no bairro carioca da Lapa, conversar com a dupla:
O CAS é um dos podcasts mais ouvidos no mundo. No ranking mundial de podcasts, em que lugar o CAS figura?
Mdc Suingue. O podcast contabiliza seus ouvintes por meio de uma plataforma do Podomatic. Temos cerca de 10 mil ouvintes regulares.
Kika Serra. A gente oscila entre os 100 primeiros do mundo. Quando ficamos um tempo sem gravar, chegamos perto do 100º lugar. Por outro lado, depois de programas especiais ou temáticos, como o 300º episódio, cujo tema foi cachaça, nós conseguimos chegar ao top 10. Mas isso só acontece umas duas vezes ao ano. Nossa média é figurar entre os 20 primeiros. Mas o curioso é que, dentro da lista dos podcasts mais ouvidos de música, a maioria avassaladora é de eletrônica. É engraçado ver a gente, que só toca esquisitice brasileira, no meio de grandes DJs de Techno e House music.
É esquisito o fato de a maioria dos ouvintes de vocês ser estrangeira?
Kika Serra. Não, porque o programa foi feito originalmente para londrinos. E a porcentagem de ouvintes brasileiros é a que mais cresce. Já chegou a um quarto do nosso público, mesmo que o programa ainda seja feito em inglês.
O podcast é uma fonte de renda para vocês?
Kika Serra. Não. Nós somos jornalistas freelancer. Trabalhamos com televisão, cinema, tradução. Com o podcast a gente não ganha nada. Pelo contrário: pagamos para fazê-lo. Por causa da nossa audiência, tivemos que fazer upgrades na plataforma. Nossa conta custa hoje 600 dólares ao ano. Mas, por outro lado, a gente ganha muito com o podcast: contatos, exposição, satisfação pessoal, liberdade de expressão, reconhecimento. Sem contar as festas e palestras para os quais somos convidados. Durante um bom tempo a gente viveu o dilema “como monetizar?”, até que deixamos isso pra lá. Quer saber? Eu não quero ser a “Sagatiba Appreciation Society”.
Como vocês selecionam o conteúdo do programa?
Mdc Suingue. Nós somos movidos a curiosidade: estamos sempre atrás de sons que nunca ouvimos. A gente pesquisa e viaja muito pelo Brasil, e todos os destinos têm um motivo musical. Se o lugar não tem uma manifestação cultural, a gente não visita. Como a indústria da musica brasileira é muito porca hoje em dia, quem tem curiosidade de saber mais sobre o tema acaba caindo na gente. Quem é curioso gosta. Quem não é em geral reclama: não aceita que, em seguida de um rock ‘n roll a gente toque um violeiro do Mato Grosso. Nesse aspecto, os gringos costumam ser mais curiosos que os brasileiros. Aqui no Brasil, as pessoas têm preconceito. A nossa imprensa contribui para a criação de tribos e rivalidades. Não deveria ser assim.
Vocês têm planos de fazer uma versão em português do programa?
Kika Serra. A gente tem muita vontade, e há uma demanda do público. Mas seria mais um trabalho sem remuneração. Se eu começar a inventar essas coisas, vou morrer de fome.
Nenhuma rádio brasileira se interessou em transmitir?
Mdc Suingue. Um amigo nos apresentou a um cara de uma rádio de MPB que queria nos conhecer. Ficamos empolgados: “Eba, vamos conseguir um espacinho na rádio!”. Marcamos o encontro, conversamos e no fim perguntamos: “E aí, vamos conseguir um espaço na FM?”. Ele disse: “Nem pensar, lá é jabá total! Ou você paga para ter um programa, ou não tem negócio”.
O nome do podcast é bem curioso. De onde veio?
Mdc Suingue. Antes de ser um programa de rádio, Caipirinha Appreciation Society era uma festa em Londres. O nome foi escolhido em desagravo à caipirinha que estava sendo feita em Londres, com suco em pó, pisco, tudo errado. O intuito da festa, então, era explorar tanto a autenticidade da música brasileira como a da caipirinha. Até hoje, nós só damos festa em locais que servem uma caipirinha decente.
Kika Serra. É um nome que poderia ser inimigo. “Caipirinha” é difícil para o gringo pronunciar, e “appreciation” é difícil para o brasileiro. Mas colou.
(com entrevista de Júlia Bezerra, do Rio de Janeiro)
Obrigadíssimo Júlia, Marcelo Duarte e toda a equipe do Blog do Curioso.
A curiosidade matou um gato mas também costuma matar as dúvidas e alargar horizontes.
Estamos com programa novo no ar, confira:
http://cas.podomatic.com/entry/index/2013-01-17T05_30_29-08_00
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Muito legal esse blog, parabéns!!!
Abraços musicais, sucesso, e paz
Marcos Dani
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