Oh! Minas Gerais / Quem te conhece / Não esquece jamais”. Mesmo não sendo o hino oficial de Minas Gerais, a cantiga, conhecida além de suas fronteiras, é a mais popular homenagem musical ao Estado do sudeste brasileiro. A tradicional canção, no entanto, não foi criada com esse fim.

A obra original não só é estrangeira como sua primeira versão tupiniquim foi feita para exaltar um navio incorporado à esquadra da Marinha Brasileira. No final do século 19, a valsa italiana “Vieni Sul Mar” chegou ao Brasil, trazida pelas companhias líricas estrangeiras que se apresentavam no país.

A melodia serviu de base para o cantor boêmio carioca Eduardo das Neves compor uma versão da letra em português e glorificar a incorporação do encouraçado Minas Geraes à esquadra da Marinha Brasileira, em 1910.

O navio, na época considerado um dos mais poderosos do mundo, foi encomendado pelo governo brasileiro à indústria bélica britânica em 1906, quando a marinha de guerra brasileira passou por um processo de modernização.

Além do encouraçado Minas Geraes, lançado em 10 de setembro de 1908, foram adquiridos o encouraçado Rio de Janeiro, dois cruzadores leves e 10 contratorpedeiros de escolta. Os navios foram batizados em homenagem aos dois principais estados brasileiros na época.

O Minas Geraes incorporou-se à marinha brasileira no dia 18 de abril de 1910. Tinha 12 canhões de 305 mm e 22 canhões de 120 mm.

COURAÇADO MINAS GERAIS

 

A letra da música feita em sua homenagem começava assim: “Louros triunfais o século nos traz / Vamos saudar o gigante do mar / Oh! Minas Geraes”.Eduardo das Neves chegou a gravá-la em disco.

Apesar do rebuliço criado com a chegada do moderno navio, sua tecnologia foi rapidamente ultrapassada e ele tornou-se obsoleto, dando baixa em 1954. Em seu período útil, bombardeou o Forte de Copacabana na Revolta dos 18 do Forte (1922) e fez parte da defesa do Porto de Salvador durante a Segunda Guerra Mundial (1943 – 1945).

Eduardo das Neves | Eduardo Sebastião das Neves (Dudu), palh… | Flickr

Percebendo a relação entre o nome do navio e o do Estado mineiro, o próprio povo foi aos poucos modificando a canção, trocando as referências ao encouraçado a expressões relacionadas a Minas Gerais.

Na década de 40, a música deixou de vez de homenagear o navio. O compositor e cantor José Duduca de Moraes fez adaptações na letra, celebrando enfim o Estado de Minas Gerais. Ele gravou a derradeira versão em 1942.

Viúva doa acervo do compositor De Moraes para Divisão de Memória da Funalfa | ACESSA.com - Cultura

Apesar da forte tradição popular, “Oh! Minas Gerais” nunca foi oficializada como hino mineiro. Ainda há tempo: o posto está vago desde a fundação de Minas Gerais, no século 17. Para que isso aconteça, é preciso que a música seja aprovada em concurso público ou em decreto pelo governador.

Em 1985, foi aberto um concurso público, que contou com 72 inscrições inéditas. O corpo de jurados, no entanto, não aprovou nenhuma das concorrentes. Em 1992, foi feita mais uma tentativa, desta vez promovida pela Assembleia Legislativa. No regulamento, havia a exigência que as composições respeitassem o tema “Inconfidência Mineira”.

Foram inscritas 570 músicas, só que, mais uma vez, a comissão técnica decidiu desclassificar todas elas, por não se aterem ao tema, por serem desrespeitosas ou por não atingirem qualidade suficiente para ocupar o posto.

Burocracias à parte, “Oh! Minas Gerais” concorre com “Hino a Minas”, de João Lúcio Brandão e Padre João Lehmann, como hino extraoficial de Minas Gerais. A música de Brandão e Lehmann foi adotada pelas escolas nos anos 1920 e 1930, tornando-se bastante popular entre essas gerações.