Os tempos de visitação passiva em museus estão acabando. Diversas instituições vêm desenvolvendo modos tecnológicos de estimular interações e experiências entre o público e o acervo. O movimento tomou força de verdade no último ano, em parte devido ao investimento milionário concedido a alguns museus pela Knight Foundation, fundação americana dedicada à comunicação e às artes. Mas não é só. No Brasil, mesmo timidamente, a tecnologia também já está proporcionando experiências interativas em alguns museus. Reunimos aqui sete exemplos:
1. Chess Project – Europa
O “Chess Project” (Projeto Xadrez) foi adotado por diversas instituições europeias, como o Museu da Acrópole, na Grécia, e tem como objetivo realizar uma curadoria personalizada do lugar. Ao chegarem, os visitantes são divididos entre alguns “perfis” de frequentadores, montados com base em enquetes e pesquisas etnográficas feitas em cada um dos museus. Dessa forma, eles são direcionados às obras de arte mais compatíveis com seu gosto. O aplicativo também é sensível às mudanças no percurso de cada indivíduo e usa esse comportamento para aprimorar o roteiro.
2. MomAR – Museu de Arte Moderna (MoMa) – Nova York (Estados Unidos)
Inaugurada no começo de março no Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova York, a exposição “Hello, We’re From the Internet” é uma intervenção virtual nas obras do pintor abstrato americano Jason Pollock (1912-1956), parte do acervo permanente do museu novaiorquino. A iniciativa é conduzida por um grupo independente de oito artistas e não foi autorizada pela instituição. Por meio do aplicativo MomAR, disponível na loja de aplicativos Google Play e em celulares disponibilizados na sala de exposições, os visitantes podem ver intervenções artísticas (que variam entre GIFs, jogos interativos e obras de arte moderna feitas pelos criadores do projeto) em realidade aumentada. Para o grupo, a exposição é um protesto contra o elitismo dos museus.
3. Watson na Pinacoteca – São Paulo (Brasil)
A iniciativa adotada pela Pinacoteca de São Paulo no ano passado foi de caráter educativo e fez parte das comemorações do centenário da IBM no Brasil. De 5 de abril a 31 de dezembro, os visitantes puderam explorar o museu acompanhados por um dispositivo eletrônico equipado com o sistema de inteligência artificial Watson, desenvolvido pela empresa. A tecnologia permitia “conversar” com as obras, fazendo perguntas que iam de “em que época você foi feita?” a “como você está se sentindo?”. O Watson também era capaz de falar sobre o contexto histórico dos quadros e relacioná-los a questões atuais. Pena que acabou…
4. “Lumin” – Instituto de Artes de Detroit – Detroit (Estados Unidos)
O Lumin é provavelmente o projeto mais ambicioso da lista. O aplicativo permite que o usuário interaja de diversas formas com o acervo do museu: a visualização pode adicionar informações à obra ou alterá-la. A imagem de uma múmia em exposição revela uma visão de raios x do objeto, as cores de um adorno antigo são mostradas em sua intensidade original e é possível andar por reconstruções virtuais de palácios. O Lumin foi instalado em celulares Lenovo Phab2 Pro, que têm mais sensores de movimento do que um smartphone regular. Os aparelhos são emprestados aos frequentadores. A tour em realidade aumentada é composta por sete paradas e há planos para triplicar o número de atrações.
5. Heroes and Legends – Kennedy Space Center – Cabo Canaveral (Estados Unidos)
Nesse museu operado pela NASA, localizado em Cabo Canaveral, a 87 km de Orlando, nos Estados Unidos, é possível conversar com alguns ícones da viagem espacial. A tecnologia também é utilizada para promover interações que fogem ao comum entre o público e os itens em exposição: o entrelaçamento dos objetos com as histórias contadas pelos hologramas dos viajantes acrescentam uma dimensão humana à exposição. O destaque é o holograma de Gene Cernan, o segundo homem a andar no espaço, que teve uma experiência traumática – o astronauta disse estar “pegando fogo” antes de conseguir retornar à nave – reconstruída por meio da realidade virtual.
6. IRIS+ – Museu do Amanhã – Rio de Janeiro (Brasil)
O museu mais moderno do Rio de Janeiro ganhou um assistente virtual personalizado em dezembro do ano passado. Ao chegar ao Museu do Amanhã, cada visitante recebe um cartão que deve usar para registrar seus interesses ao longo da exposição. No fim do passeio, a pessoa pode depositá-lo em um dos totens de autoatendimento e ter um diálogo com o sistema IRIS+ sobre o efeito que as obras do museu lhe proporcionaram, além de receber informações adicionais sobre aquilo que mais lhe agradou.
7. Museu de Arte de Cleveland – Cleveland (Estados Unidos)
Este museu americano é frequentemente chamado de “o museu mais tecnológico do mundo” – e não é à toa. A inovação se dá por meio uma parede interativa de 12 metros de altura, colocada na Galeria 1, que mostra todos os itens disponíveis no lugar e permite que os visitantes os combinem de acordo com categorias como “pintura holandesa” ou “cor azul”. Dá até mesmo para visualizar diferentes pinturas e objetos que exploram um mesmo tema. Outro destaque é a galeria ArtLens, onde é possível criar autorretratos em colagens e pinturas digitais tomando como base o acervo do museu. Os visitantes podem ainda explorar os detalhes de cada obra em uma tela de 4K sensível ao movimento.