Último final de semana antes da volta às aulas. Já combinei com a Beatriz e com o Antonio que iremos atrás do material que não foi comprado ainda (as aulas do Rodrigo, o universitário de casa, ainda demoram um pouco mais a começar). Dias atrás, recebi um e-mail cheio de fotos do material escolar de antigamente. Bateu uma saudade. Papel almaço, Letraset, Contact para encapar os livros… É verdade que tinha muita coisa ali que era do tempo do meu pai, não do meu, como a caneta tinteiro. O instrumento era caro e, pelo que ele me conta, as crianças tinham que levar na mochila um vidrinho de tinta para recarregá-lo. Apesar de pouco prática, a caneta tinteiro tinha seus caprichos – por exigir delicadeza na escrita, alfabetizava alunos de caligrafia invejável. A letra do meu pai é um espetáculo.

IARA DO CARMO. Colunista Social Propaganda da caneta tinteiro ...

O uso de tais canetas nas escolas exigia a presença nas listas de materiais de um objeto hoje extinto – o mata-borrão. A tinta das tinteiro demorava a secar, podendo causar manchas no caderno. A solução para o impasse era utilizar esse bloco de madeira de 20 cm de largura por 10 cm de altura, forrado com um papel absorvente, para carimbar cada linha escrita. O papel sugava o excesso de tinta, evitando os borrões.

A falta de praticidade também pesava quanto aos materiais utilizados em trabalhos mais artísticos. O que hoje se resolve com uma simples cola em bastão exigia algumas décadas atrás mais esforço e, certamente, mais sujeira. Até os anos de 1970, o jeito era colar papel com a goma arábica, uma cola líquida, espessa e grudenta. As agências dos Correios tinham dessa cola. Eu sou do tempo da Cola Tenaz, que também exigia muito cuidado para não deixar grudadas as páginas dos trabalhos – e os nossos álbuns de figurinhas. Para o título e ilustrações dos trabalhos, nada de imagens impressas – usava-se o estêncil, molde vazado de letras e desenhos variados.

Aditivos Ingredientes

Outro item cativo das mochilas das crianças do século XX e cada vez mais escasso nas do século XXI são os cadernos de caligrafia. O objetivo deles era aprimorar a estética da escrita dos alunos. Hoje em dia, tenho a impressão que as  escolas  não fazem mais questão de impor seu uso.

IARA DO CARMO. Colunista Social CALIGRAFIA Caderno das Crianças ...

Depois do fim do uso de canetas tinteiro nos colégios, na década de 1960, o lápis tornou-se a principal ferramenta utilizada para a escrita pelos alunos. A indústria investiu então na inovação das borrachas, lançando no mercado aquelas em forma de lápis (o famoso lápis-borracha, que era amarelo brilhante) e as duplas (de um lado, apaga caneta e, de outro, grafite), que viraram febre entre as crianças.

LÁPIS BORRACHA

Borracha dupla: de um lado, apaga lápis; de outro, caneta.Não só os objetos, mas também o método de ensino nas escolas evoluiu consideravelmente nas últimas décadas. Matérias como Educação Moral e Cívica foram instituídas no período da Ditadura Militar, de 1964 a 1985, priorizando a formação de cidadãos comportados e nacionalistas. Na matemática, até a década de 1990 era preciso decorar a tabuada para passar de ano. Por isso, os alunos tinham um livro de tabuada, onde havia exercícios, dicas e truques. Os mais espertinhos compravam o lápis de tabuada, onde estavam gravadas todas as contas de multiplicação que deveriam saber de cor. O complicado era ter que apontar o lápis e ir perdendo as colunas aos poucos…

LÁPIS TABUADA

Lápis de tabuadaPode soar estranho, mas o cheiro de álcool desperta hoje nas gerações mais antigas o sentimento de nostalgia dos tempos de colégio. Professores utilizavam o mimeógrafo para copiar provas e folhas de exercícios. A máquina era abastecida a álcool. Hoje sei que ela é usada num número bem pequeno de escolas – e está prestes a se tornar uma peça de museu.

Falta de Criatividade: Eu amava quando a professora usava o ...